quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Painel da paranóia

A leitura do espaço dos leitor nos jornais é um exercício interessante. Por ali, passam os mais diferentes tipos. Alguns engraçados; outros, nem tanto. Idéias, as mais estapafúrdias, são apresentadas com seriedade. O espaço do leitor é uma espécie de termômetro para medir o impacto que determinada notícia provoca na opinião pública. Mas, de uns tempos para cá, este espaço dito democrático vem sendo instrumentalizado pelos jornais e as opiniões publicadas soam como que um samba de uma nota só. Se o jornal se opõe politicamente ao governante de turno, então, todas as cartas protestando contra este governo terão imediata guarida, com publicação em tempo recorde. No entanto, missivas favoráveis vão para o fim da fila, aguardando a ordem de chegada; invariavelmente, são publicadas quando o assunto, que motivou o leitor a escrever, já esfriou e caiu no esquecimento. Sua publicação serve apensa para constar, uma espécie de mea culpa do jornal para não passar recibo de anti-democrático.
Vez ou outra, publica-se alguma carta que nos faz refletir; como aconteceu recentemente. Um leitor, a julgar pela foto, na casa dos cinquenta anos, teceu loas e mais loas ao regime militar. Segundo ele, naquela época "as pessoas podiam andar tranquilamente pelas ruas sem correrem o risco de serem assaltadas". E ainda, "não existia corrupção e o país vivia sob pleno emprego". Bem, talvez o país ao qual se refere ao leitor não seja o Brasil; talvez seja fruto de sua imaginação. Será que não sobrou a este leitor um mínimo de disposição para refletir que, se ainda vivêssemos em um regime como aquele, ele não poderia sequer publicar suas idéias insanas no jornal?