quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Bento XVI e as eleições

Uns surpresos. Outros estupefatos. E outros ainda esfregando as mãos. Estas as reações ao discurso do Papa Bento XVI diante de bispos do nordeste brasileiro, que foram à Roma numa espécie de prestação de contas de suas dioceses. O líder dos católicos apostólicos romanos defendeu o direito de padres, bispos e cardeais intervirem no debate político e posicionarem-se em defesa da vida, desde a concepção até a morte natural. Suas declarações chegam às vésperas do segundo turno das eleições brasileiras, marcadas para domingo, 31, após uma campanha em que os valores religiosos permearam os debates.
O discurso de Bento XVI não surpreendeu. Ele apenas refletiu novas as orientações doutrinárias da Igreja Católica de Roma, após a eleição do Cardeal Ratzinger. Seu papado, longe de ser de transição, como chegaram a afirmar no início alguns vaticanistas, é mais de chamamento à unidade católica. Os valores morais que os católicos consideram dogmas serão cada vez mais reafirmados. Neles se inserem a defesa da vida contra o aborto e métodos contraceptivos; ataques aos homossexuais e apoio às tentativas de convertê-los; freio no diálogo interreligiões e recuo no apoio ao ecumenismo, com a reafirmação do primado da Igreja Católica.
Mas, é no front interno que o papado de Bento XVI será mais incisivo. E estas declarações estão inseridas neste contexto. O papa quer qualificar a intervenção dos católicos no mundo laico e, para isso, devem lançar mão dos valores que a igreja considera essenciais. A Igreja Católica de Roma mergulhou de vez na dipusta pelos corações e mentes dos homens e mulheres que habitam esta planeta. Quer sair da inércia e partir para o confronto aberto contra os protestantes (em suas vertentes pentecostais e neopentecostais) e o islamismo.
Os conservadores venceram o grande debate iniciado no Concílio Vaticano II, apesar da euforia inicial dos progressistas. Eles esperaram o tempo certo. O pontificado de João Paulo II serviu como uma cortina de fumaça para o que se fazia por trás dos panos. O carisma de Karol Wojtyla cativava e arrastava multidões. Enquanto isso, nos porões da Igreja Católica, Joseph Ratzinger, o todo poderoso prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, aparava arestas, acertava as contas com a história e promovia o retorno da igreja à rota na qual ela caminhava há quase dois mil anos.
Morto o papa polonês, era chegado o momento do articulador saltar à ribalta, assumir o comando e colocar em prática tudo o que ele gestara nos 27 anos anteriores.
A Igreja Católica Apostólica Romana vive o seu momento de reafirmação de valores que não necessariamente estão concatenados com a realidade atual. Isto não importa para Bento XVI, mais interessado em fazer com que a igreja se adeque ao molde que ele preparou durante o pontificado de João Paulo II. Se as recentes declarações para os bispos brasileiros vão ou não influenciar o eleitorado brasileiro só a abertura das urnas no domingo vão dizer. Uma dica: pesquisas - qualitativas e quantitativas - apontam para um esgotamento do debate em torno da questão do aborto.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os cães de guarda do Serra em ação

Emiliano José

Estamos a seis dias das eleições. Não sei por que, mas logo me veio à mente o título do notável livro de John Reed – Os dez dias que abalaram o mundo. É uma notável reportagem sobre a aurora da Revolução Russa. A lembrança talvez venha porque tenho absoluta convicção de que esses próximos dez dias são fundamentais para o nosso destino, para o destino do povo brasileiro. E mais do que isso, e é disso que quero tratar, serão dias de um estrebuchar midiático nunca antes visto neste País. Nós não temos o direito de nos enganar quanto a isso. Não podemos nos iludir.
Está posto que a mídia no Brasil é uma das mais partidarizadas do mundo. Não há no Brasil, ao menos se consideramos o seleto núcleo de famílias de onde sai as diretivas para o resto do País, não há aquilo que no jornalismo se denomina cobertura, que implica um olhar sobre o fato o mais verdadeiro possível. O núcleo é constituído pelas famílias que controlam os complexos midiáticos Globo, Folha, Estadão e Abril. Esse é o secretariado do Comitê central do partido político midiático brasileiro. E está posto que a ação deles nesses 10 dias será intensa. E que não haverá qualquer compromisso com os fatos.
O candidato do partido é Serra – ou será que há ainda quem duvide? E por esse candidato eles – os barões midiáticos – continuarão a fazer mais do mesmo – utilizar os fatos para construir as versões que melhor atenderem aos interesses de Serra. Lula, antes da divulgação do relatório da Polícia Federal sobre os supostos dossiês sobre os tucanos, disse que o problema eram sempre as versões, e acertou em cheio. Deturparam tudo. Os tucanos se engalfinham e o PT é culpado.
Os barões midiáticos atuarão nesses dias com uma intensidade maior do que tudo aquilo que nós já vimos, embora o que se viu até agora em nossa história não seja pouco. Estão considerando que esta é a eleição da vida deles. A expectativa de continuarem fora do controle direto do Estado os preocupa e por isso cotidianamente a cobertura e os colunistas se empenham todo o tempo em subsidiar a oposição, em municiar o candidato do partido.
Que não me alertem sobre o perigo de uma visão conspirativa.
A mídia brasileira, ao menos aquele núcleo hegemônico, conspira há muito tempo, e sempre a favor das classes dominantes, dos setores mais conservadores da sociedade brasileiros, dos eternos detentores de privilégios. Eles não guardam sequer o recato de cumprir os manuais de redação, aquelas coisas do beabá do jornalismo, que se aprende nos primeiros semestres das escolas de comunicação. No partido político midiático, que o deputado Fernando Ferro chamou de Partido da Imprensa Golpista, o famoso PIG, a pauta tem sempre direção, orientação política, e ao reportariado cabe cumpri-la, sem discussão. Aqui e ali, alguma distração.
Vou insistir: não temos o direito da ilusão. Não esperemos nenhuma atitude séria, honesta do partido político midiático. Aliás, se voltamos ao passado, e não precisa ser tão remoto, vamos ver sempre esse partido atuando em favor das causas mais conservadoras, sem temer pelas conseqüências. Quem quiser, dê uma lida no capítulo denominado Mar de Lama, do livro de Flávio Tavares denominado O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder. Nesse capítulo, fica evidente como a mídia orientou toda a ação política para derrubar Getúlio, e que terminou com o suicídio do presidente.
Quem não se lembra da atividade militante de nossa mídia a favor do golpe de 1964, salvo sempre as exceções, e nesse caso só Última Hora? Não importa que daí sobreviesse, como ocorreu, um regime de terror e morte. E durante a ditadura, a mídia teve sempre uma atitude complacente, como denomina o jornalista e professor Bernardo Kucinski em seu livro Jornalistas e Revolucionários – nos tempos da imprensa alternativa. Complacente e muitas vezes conivente com a ditadura.
Quem quiser conhecer um pouco da atitude do Grupo Folhas durante a ditadura é só ler o extraordinário livro de Beatriz Kushnir – Cães de Guarda – Jornalistas e Censores. Ali fica evidente como o Grupo Folhas foi um entusiasta defensor da ditadura militar. O Estadão, se sabe, foi sempre um jornal vinculado à direita. Teve o mérito, ao menos, agora, de declarar o voto em Serra. E mostrou a sua verdadeira face ao censurar Maria Rita Khel por publicar artigo defendendo o Bolsa Família. Do grupo Civita, há pouco que dizer, por desnecessário. A revista Veja é uma excrescência, um panfleto da extrema-direita. Do grupo Globo, que dizer? Há uma caudalosa bibliografia a respeito, que a desnuda, e que eu não vou perder tempo em citá-la. Era porta-voz da ditadura, esteve sempre ao lado dos privilegiados e se aliou ao longo de sua história, sem qualquer variação, aos mais destacados homens da direita brasileira.
Por tudo isso, quero reiterar: vamos manter acesa a idéia de que é preciso mostrar o que esse projeto político em curso, com Lula à frente, fez pelo povo brasileiro, as extraordinárias mudanças que estamos fazendo no Brasil. E, por todos os meios que tivermos, no leito da democracia, desmontar o festival de mentiras, de calúnias, de sordidez que vem sendo orquestrado pela campanha de Serra, com a participação decisiva do partido político midiático.
Mais do que nunca é necessário dar adeus às ilusões de uma mídia com características democráticas no Brasil atual. E é necessário ter clareza de que temos que dar passos firmes na direção da democratização da mídia, por mais que ela estrebuche. A imprensa tem que cumprir com suas obrigações constitucionais. Não pode se constituir em partido político disfarçando-se de imprensa. A democracia há de chegar à mídia também. Para que o país avance. E para que façamos isso é preciso eleger Dilma presidente.
Jornalista, escritor, prof. Dr. em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Assessor de Dilma na web diz que mentiras mancharam campanha

Fabrícia Peixoto

Da BBC Brasil em Brasília
O coordenador de internet da campanha de Dilma Rousseff (PT), Marcelo Branco, diz que o peso da internet está sendo "a grande novidade" desta eleição, com milhões de eleitores "podendo se expressar" pelos canais virtuais.
Mas segundo ele, o excesso de "boatos" e de "informações falsas" sobre a candidata petista "mancharam" o processo democrático, sobretudo no 1º turno. "Não posso deixar de registrar um repúdio a esse tipo de atitude, porque isso não é campanha política. Isso é bandidagem", diz.
"São apoiadores do Serra em sua maioria, uma campanha que baseou toda a sua estratégia na disseminação de boatos e mentiras. Essa parte foi muito negativa para a eleição no Brasil", acrescenta.
BBC Brasil - Você tem uma avaliação extremamente positiva do uso da internet nesta campanha, mas o debate de temas importantes parece ter ficado em segundo plano... Qual foi o principal ganho, então?
Marcelo Branco - Eu sempre disse que a internet poderia ter um peso decisivo nessa eleição e acho que isso se confirma. O peso e o papel que a internet está tendo nestas eleições no Brasil talvez seja a grande novidade em termos de espaço e de formação de opinião. Até as últimas eleições, só os candidatos podiam ter seu espaço, seu site, seu blog, de forma oficial. O cidadão não podia ter espaço apoiando candidaturas porque isso era proibido. Em cima disso, nossa estratégia toda no primeiro turno foi não só centrar a campanha da Dilma em cima do espaço oficial dela, mas principalmente estender esse apoio à Dilma às centenas de blogs que já se movimentavam na blogosfera, de apoio a ela. Fizemos uma campanha descentralizada, valorizando essas centenas de milhares de apoios espontâneos que tinham surgido na rede. Criou-se um bloco formador de opinião que ajudou a influir, sem dúvidas, na decisão do eleitorado.
BBC Brasil - Mas os próprios aliados da candidata, que apostavam em uma vitória já no primeiro turno, apontaram a internet como um dos vilões da perda de votos, em função de supostos boatos sobre a Dilma...
Branco - No primeiro turno, tivemos uma estratégia que a gente vai manter, porque ela foi validada pela Dilma e pela coordenação da campanha, que foi exatamente a de estimular a cobertura colaborativa. Nossa campanha foi no positivo durante todo o primeiro turno. Nossa avaliação, da campanha, é de que nós tivemos um ponto fraco, que a gente está tentando resolver nesse segundo turno, que foi em relação aos e-mails. Nas redes sociais nós fomos muito bem, mas a avaliação nossa é de que a gente não conseguiu responder na velocidade necessária aos ataques que vieram pelas correntes de e-mail. Principalmente ataques difamatórios, fraudulentos, com depoimentos da Dilma que não eram verdade. O que é grave nisso tudo é um processo de uma campanha política que tem como objetivo a difamação, a mentira, a calúnia. Isso manchou o processo democrático nesse primeiro turno. A gente pode fazer uma análise de tudo que a internet trouxe de positivo para democratizar a informação, só que essa parte... Não posso deixar de registrar um repúdio a esse tipo de atitude porque isso não é campanha política. Isso é bandidagem.
BBC Brasil - Você diz que a campanha abriu espaço para esses milhões de pessoas que estão podendo se expressar politicamente na internet. Mas isso também não acarreta alguns excessos?
Branco - Esse foi o ponto negativo. Esses e-mails agressivos, mas também fraudulentos, isso é algo inaceitável na democracia. Merece o repúdio. Agora, tecnicamente não há como controlar. Isso é como spam, não é só nas eleições. São apoiadores do Serra em sua maioria, uma campanha que baseou toda a sua estratégia na disseminação de boatos e mentiras. Isso não é o debate político. Concordo que essa parte foi muito negativa para a eleição no Brasil.
BBC Brasil - Conseguimos chegar pelo menos perto do que foi a campanha do Obama à Presidência dos Estados Unidos, que se tornou caso mundial de uso da internet em uma eleição?
Branco - O resultado do primeiro turno mostra isso, que a internet foi muito mais importante do que se imaginava. Se você for ver o peso que as campanhas deram para isso e comparando com as outras mídias, há um consenso de que a internet teve um peso e de que foi a grande novidade. A campanha do Obama teve pontos extremamente positivos nesse sentido, mais fortes, mas essa mobilização diária, que tivemos aqui, acho que fomos até melhores. Temos comunidade no Orkut com 120 mil pessoas. Aqui o protagonista foi o cidadão. A campanha do Obama na internet foi mais centralizada nele, com ele falando para os eleitores via internet. Aqui foram os próprios eleitores que fizeram o debate. A internet tá tendo papel decisivo, e acho que a gente vai ter um grande "case".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cinco ondas da campanha contra Dilma Rousseff

Por Rodrigo Vianna
O jornalista Tony Chastinet é um especialista em desvendar ações criminosas. Sejam elas cometidas por traficantes, assaltantes de banco, bandidos de farda ou gangues do colarinho branco. Foi o Tony que ajudou a mostrar os caminhos da calúnia contra Dilma.

O Tony é também um estudioso de inteligência e contra-inteligência militar. E ele detectou, na atual campanha eleitoral, o uso de técnicas típicas de estrategistas militares: desde setembro, temos visto ações massivas com o objetivo de disseminar “falsa informação”, “desinformação” e criar “decepção” e “dúvida” em relação a Dilma. São conceitos típicos dessa área militar, mas usados também em batalhas políticas ou corporativas.
Na atual campanha, nada disso é feito às claras, até porque tiraria parte do impacto. Mas é feito às sombras, com a utilização de uma rede sofisticada, bem-treinada, instruída. Detectamos nessa campanha, desde a reta final do primeiro turno, 4 ondas de contra informação muito claras.
1) Primeira Onda – emails e ações eletrônicas: mensagens disseminadas por email ou pelas redes sociais, com informações sobre a “Dilma abortista”, “Dilma terrorista”, “Dilma contra Jesus”; foi essa técnica, associada aos sermões de padres e pastores, que garantiu o segundo turno.
2) Segunda Onda – panfletos: foi a fase iniciada na reta final do primeiro turno e retomada com toda força no segundo turno; aqueles “boatos” disformes que chegavam pela internet, agora ganham forma; o povão acredita mais naquilo que está impresso, no papel; é informação concreta, é “verdade” a reforçar os “boatos” de antes;
3) Terceira Onda – telemarketing: um passo a mais para dar crédito aos boatos; reparem, agora a informação chega por uma voz de verdade, é alguém de carne e osso contando pro cidadão aquilo tudo que ele já tinha “ouvido falar”.
4) Quarta Onda – pichações e faixas nas ruas: a boataria deixa de frequentar espaços privados e cai na rua; “Cristãos não querem Dilma e PT”; “Dilma é contra Igreja”; mais um reforço na estratégia. Faixas desse tipo já apareceram em São Paulo.
O PT fica o tempo todo, correndo atrás do prejuízo. Reparem que agora o partido tenta desarmar a onda do telemarketing. Quando conseguir, a onda provavelmente já terá mudado para as pichações.
Há também a hipótese de todas as ondas voltarem, ao mesmo tempo, com toda força, na última semana de campanha. Tudo isso não é por acaso. Há uma estratégia, como nas ações militares.
O que preocupa é que, assim como nas guerras, os que tentam derrotar Dilma parecem não enxergar meio termo: é a vitória completa, ou nada. É tudo ou nada – pouco importando os “danos colaterais” dessas ações para nossa Democracia.
Reparem que essas ondas todas não foram capazes de destruir a candidatura de Dilma. Ao contrário, a petista parece ter recuperado força na última semana. Mas as dúvidas sobre Dilma ainda estão no ar.
Minha mulher fez uma “quali” curiosa nos últimos dias. Saiu perguntando pro taxista, pro funcionário da oficina mecânica, pro vigia da rua de baixo, pra moça da farmácia: em quem vocês vão votar? Nessa eleição, pessoas humildes- quando são indagadas por alguém de classe média sobre o assunto - parecem se intimidar. Uns disseram, bem baixinho: “voto na Dilma”, outros disseram “não sei ainda”. Quando minha mulher disse que ia votar na Dilma, aí as pessoas se abriram, declararam voto. Mas ainda com algum medo de serem ouvidos por outros que chamam Dilma de “terrorista”, “vagabunda”, “matadora de criancinhas”.
O que concluo: as técnicas de contra-inteligência de Serra conseguiram deixar parte do eleitorado de Dilma na defensiva. As pessoas – em São Paulo, sobretudo - têm certo medo de dizer que vão votar em Dilma.
Esse eleitorado pode ser sensível a escândalos de última hora. Não falo de Erenice, Receita Federal, Amaury – nada disso.
Tony teme que o desdobramento final da campanha (ou seja, a “Quinta Onda”) inclua técnicas conhecidas nessa área estratégico-militar: criar fatos concretos que façam as pessoas acreditarem nos boatos espalhados antes.
Do que estamos falando? Imaginem uma Igreja queimando no Nordeste, e panfletos de petistas espalhados pela Igreja. Imaginem um carro de uma emissora de TV ou editora quebrado por “raivosos petistas”.
Paranóia?
Não. Lembrem como agiam as forças obscuras que tentaram conter a redemocratização no Brasil no fim dos anos 70. Promoveram atentados, para jogar a culpa na esquerda, e mostrar que democracia não era possível porque os “terroristas” da esquerda estavam em ação. Às vezes, sai errado, como no Rio Centro.
Por isso, vejo com extrema preocupação o que ocorreu hoje no Rio: militantes do PT e PSDB se enfrentaram numa passeata de Serra. É tudo que o que os tucanos querem na reta final: a estratégia, a lógica, leva a isso. Eles precisam de imagens espetaculares de “violência”, da “Dilma perigosa”, do “PT agitador” – para coroar a campanha iniciada em agosto/setembro.
Espero que o Tony esteja errado, e que a Quinta Onda não venha. Se vier, vai estourar semana que vem: quando não haverá tempo para investigar, nem para saber de onde vieram os ataques.
Tudo isso faz ainda mais sentido depois de ler o que foi publicado aqui , pelo ”Correio do Brasil”: uma Fundação dos EUA mostra que agentes da CIA e brasileiros cooptados pela CIA estariam atuando no Brasil – exatamente como no pré-64.
Como já disse um leitor: FHC queria fazer do Brasil um México do sul (dependente dos EUA), Serra talvez queira nos transformar em Honduras (com instituições em frangalhos).
Os indícios estão todo aí. Essa não é uma campanha só “política”. Muito mais está em jogo. Técnicas de inteligência militares estão sendo usadas. Bobagem imaginar que não sejam aprofundadas nos dez dias que sobram de campanha.
Por isso, o desespero do PSDB com as pesquisas. Ele precisa chegar à ultima semana com diferença pequena. Se abrir muito, até a elite vai desconfiar das atitudes das sombras, vai parecer apelação demais.
Por último, uma pergunta: por que o “JN” adiou o Ibope – que deveria ter sido divulgado ontem? Porque Serra estava na bancada do jornal.
A Globo não quis constranger Serra com uma pesquisa ruim? Imaginem as pressões sobre Montenegro, de ontem pra hoje? O PSDB precisa segurar a diferença em 8 pontos no máximo.Para que a estratégia de ataque final, na última semana, tenha chance de surtir efeitos.
Estejamos preparados pra tudo. E evitemos entregar à turma das sombras o que ela quer: agressões contra Serra, contra Igrejas, contra carros de reportagem.
O Brasil precisa respirar fundo e passar por esse túnel de sombras em que a campanha de Serra nos lançou.

Globo perde exclusividade no futebol

Perdida nos cadernos de esportes dos jornais, uma notícia vai mexer com a sensibilidade de milhões de brasileiros: a Rede Globo perdeu a exclusividade dos direitos de transmissão do futebol. Há anos que os outros canais tentam, sem sucesso, tirar o futebol da emissora carioca. Mas, coube a Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) retirar a cláusula de exclusividade do contrato firmado entre a Globo e o Clube dos 13, que negocia em nome dos clubes que disputam a Série A do campeonato brasileiro.
Segundo o portal R7, o acordo, costurado pelo tribunal com a emissora e o Clube dos 13, vale para a negociação das edições a partir de 2012, uma vez que a transmissão do campeonato do ano que vem já está definida. A maioria dos conselheiros do Cade foi contra a preferência dada à Rede Globo pelo Clube dos 13 por entender que estava configurada a prática de cartel (acordo explícito ou implícito entre duas partes para fixação de preços). Na prática, é o Clube dos 13 que define quem transmite os jogos, porque reúne os maiores times de futebol do país e negocia os direitos de imagem dos clubes.
O efeito imediato do fim da exclusividade pode ser o aumento das receitas dos clubes. Na forma como vigora o contrato atualmente, os “artistas” são mal remunerados e nem podem aceitar propostas que lhes são mais vantajosas.  Na Argentina, com um campeonato bem menos badalado e importante que o brasileiros, os clubes recebem mais do que os brasileiros pelos direitos de transmissão.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Marina... Você se pintou?

Maurício Abdalla

“Marina, morena Marina, você se pintou?” diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as famílias que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão disse: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.
Maurício Abdalla, é professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Arnóbio Rocha: brasileiro votou bem

O fígado não costuma ser bom companheiro quando nos propomos a análisar o que quer que seja, sobretudo política. De tudo o que li até agora sobre o primeiro turno das eleições gerais, esta avaliação me parece a mais sensata. Ei-la para que os visitantes deste blog (se é que existe algum!) possam tirar suas próprias conclusões
1) Brasileiro votou muito bem com sabedoria, só elitista criticam sem base na realidade concreta e no preconceito;
2) Tiririca é ponto fora da curva e eleito no estado mais politizado(?), mais rico do Brasil;
3) Apenas lembremos que Cicciliona foi eleita na Itália, Bush nos EUA, Sarkhozi na França, faz parte da democracia;
4) Olhando os números gerais foram muito bons, nos livramos: Tasso, A.Virgilio, Mão Santa, Heraclito, Aleluia, Marco Maciel, Cesar Maia (dentre outros, veja a lista completa aqui).
5) Dilma foi muito bem em todo Brasil, faltou pouco mais de 3% pra vencer no primeiro turno, grande feito para quem nunca fora candidata.
6) Marina foi a Bala Verde que salvou Serra da aposentadoria antecipada. Mas não podemos culpá-la de nada, faz parte da Democracia.
7) Devemos pensar onde erramos e não achando culpados, Marina era candidata e aproveitou a oportunidade, devemos dialogar com ela.
8 ) Dialogar com Marina e seus eleitores. Bobagem ficarmos acusando-a de qualquer coisa, lembremos que sem Erenice venceriamos fácil;
9) Agora é levantar cabeça e ir em frente, ficar remoendonãoñ leva a nada, Lula em 2006 tava “eleito” e teve que ir ao segundo turno;
10) Grande trunfo é mostrar aos eleitores que Dilma eleita terá base sólida de apoio na Câmara e no Senado para fazer grande governo, Serra não;
11) Único resultado ruim foi Beto Richa o censurador ter vencido no primeiro turno, demais estão dentro do esperado, bola para frente.