quarta-feira, 25 de julho de 2012

Umbandistas e Candomblecistas querem eleger representantes para os legislativos municipais

Nas eleições municipais deste ano, em Campinas como em outras cidades, existe uma organização muito forte, por parte dos umbandistas, candomblecistas e espiritualistas de, a exemplo do que fazem os membros de outras confissões religiosas, elegeram representantes para os Legislativos vinculados organicamente às religiões de matriz africana. Em outras palavras, chega de intermediários. Os membros destas confissões religiosas querem seus próprios irmãos para o Legislativo municipal.
Hoje, seja em âmbito municipal, estadual ou federal, os evangélicos realizam um forte trabalho para eleger seus representantes. E sabem por quê? Porque, uma vez eleitos, estes legisladores (vereadores, deputados estaduais ou federais) serão as vozes destas confissões religiosas no Parlamento. Serão eles que, das tribunas legislativas, irão vociferar contra “aquelas religiões que falam com os mortos e cultuam demônios, como os Exus”. Serão eles que apresentarão projetos de lei voltados para o sufocamento dos direitos das chamadas minorias, como os homossexuais; contra os direitos das mulheres; pela obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, em detrimento do caráter laico do Estado brasileiro.
Os muitos escândalos envolvendo parlamentes amplamente divulgados pela mídia produziram uma espécie de “dèja-vu”; de descrença total nas instituições e naqueles que nelas atuam. Há quem ache até mesmo que na política “são tudo um bando de ladrões e impostores” ou, ainda, “o sujeito pode até ser bem intencionado, mas, uma vez lá dentro, se deixa corromper também”.
Por que, ao invés de só atirar pedras, a própria sociedade não assume a parcela de culpa nesta situação? Afinal, não basta só votar, é preciso fiscalizar também. E não vale a desculpa de que “as sessões da Câmara dos Vereadores são muito chatas e realizadas em horários proibitivos”.
O advento da internet e sua popularização eliminaram estas desculpas. Pesquisas mostram que o Brasil tem 82 milhões de usuários da rede mundial de computadores. Então, o que precisamos é de mais ativismo político e menos letargia. Atuação política é bem diferente de política partidária. Quando decidimos encampar, participar de uma atividade em defesa dos nossos direitos, por exemplo, estamos exercendo a nossa cidadania, enfim, estamos atuando politicamente.
Os eventos ocorridos em Pernambuco recentemente, onde diversos terreiros de Umbanda foram destruídos, vítimas da intolerância religiosa, da desinformação e do preconceito, dão a exata medida da falta que faz uma representação institucional própria. Ou ainda, o bloqueio que vereadores evangélicos da Câmara de São Vicente impuseram ao projeto de instalação de uma estátua de nossa Mãe Iemanjá nas praias daquela cidade, é outro exemplo da falta desta representação orgânica. E olhem que, no caso da cidade paulista, a instalação não teria nenhum custo para o município; o doador da imagem se comprometeu, inclusive, em arcar com os custos da instalação. Bastava apenas a autorização, que deveria vir do Legislativo municipal.
Esta realidade comprova a necessidade de as religiões de matriz africana terem representações parlamentares organicamente vinculadas a elas. Alguém que compreenda o caráter mágico e magístico da religião; enfim, alguém que não enxergue estas confissões sob o prisma da curiosidade, mas, sim, do respeito e da tolerância em relação aos nossos rituais e práticas religiosas.