Hoje, seja em âmbito municipal, estadual
ou federal, os evangélicos realizam um forte trabalho para eleger seus
representantes. E sabem por quê? Porque, uma vez eleitos, estes legisladores
(vereadores, deputados estaduais ou federais) serão as vozes destas confissões religiosas
no Parlamento. Serão eles que, das tribunas legislativas, irão vociferar contra
“aquelas religiões que falam com os mortos e cultuam demônios, como os Exus”.
Serão eles que apresentarão projetos de lei voltados para o sufocamento dos
direitos das chamadas minorias, como os homossexuais; contra os direitos das
mulheres; pela obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas, em
detrimento do caráter laico do Estado brasileiro.
Os muitos escândalos envolvendo parlamentes
amplamente divulgados pela mídia produziram uma espécie de “dèja-vu”; de
descrença total nas instituições e naqueles que nelas atuam. Há quem ache até mesmo
que na política “são tudo um bando de ladrões e impostores” ou, ainda, “o
sujeito pode até ser bem intencionado, mas, uma vez lá dentro, se deixa
corromper também”.
Por que, ao invés de só atirar pedras, a
própria sociedade não assume a parcela de culpa nesta situação? Afinal, não
basta só votar, é preciso fiscalizar também. E não vale a desculpa de que “as
sessões da Câmara dos Vereadores são muito chatas e realizadas em horários
proibitivos”.
O advento da internet e sua
popularização eliminaram estas desculpas. Pesquisas mostram que o Brasil tem 82
milhões de usuários da rede mundial de computadores. Então, o que precisamos é
de mais ativismo político e menos letargia. Atuação política é bem diferente de
política partidária. Quando decidimos encampar, participar de uma atividade em
defesa dos nossos direitos, por exemplo, estamos exercendo a nossa cidadania,
enfim, estamos atuando politicamente.
Os eventos ocorridos em Pernambuco
recentemente, onde diversos terreiros de Umbanda foram destruídos, vítimas da
intolerância religiosa, da desinformação e do preconceito, dão a exata medida
da falta que faz uma representação institucional própria. Ou ainda, o bloqueio
que vereadores evangélicos da Câmara de São Vicente impuseram ao projeto de
instalação de uma estátua de nossa Mãe Iemanjá nas praias daquela cidade, é
outro exemplo da falta desta representação orgânica. E olhem que, no caso da
cidade paulista, a instalação não teria nenhum custo para o município; o doador
da imagem se comprometeu, inclusive, em arcar com os custos da instalação.
Bastava apenas a autorização, que deveria vir do Legislativo municipal.
Esta realidade comprova a necessidade de
as religiões de matriz africana terem representações parlamentares organicamente
vinculadas a elas. Alguém que compreenda o caráter mágico e magístico da religião;
enfim, alguém que não enxergue estas confissões sob o prisma da curiosidade, mas,
sim, do respeito e da tolerância em relação aos nossos rituais e práticas
religiosas.