terça-feira, 5 de junho de 2012

As nossas bússolas

A invenção do astrolábio contribuiu de maneira decisiva para as grandes navegações e mudou a história da humanidade. A eficácia daquele instrumento permitiu a portugueses e espanhóis singrarem os mares do desconhecido e trazerem à luz aquelas terras que ficavam muito além do grande mar tenebroso, como era conhecido o Oceano Atlântico.
Antes, porém, graças a Galileu Galilei e a contragosto da igreja católico, já se sabia que o planeta Terra era redondo e não era o centro do Universo; era apenas mais um planeta que gravitava em torno do Sol, este sim, no centro da galáxia. Com base nestas teorias, os grandes navegadores, de forma perspicaz, raciocinaram: “bom, se a Terra é redonda, então, posso navegar rumo à oeste que, certamente, chegarei a leste”. E, assim, fizeram.
Por conta desta ousadia, a humanidade, restrita ao continente europeu e à Ásia, soube que havia outras terras. E descobriu-se a América. Ah, a propósito: o astrolábio é o antepassado da bússola, velha conhecida de todos nós.
Se para as grandes viagens por terra, mar e ar, a bússola é um instrumento indispensável, como fazemos para nos orientar em nossa caminhada pessoal? Como sabemos qual o melhor caminho a seguir em nosso desenvolvimento espiritual? Certamente, os livros são nossos melhores guias, ou seja, são nossas bússolas.
Mas, atentemos para o detalhe: a bússola nos orienta, aponta a direção, porém, não define com exatidão qual a rota certa, o melhor caminho, a seguir. Isto é por nossa própria conta. Com os livros acontece a mesma coisa. É comum encontrarmos pessoas capazes de fazer longas citações de determinadas obras, tão precisas a ponto de dizerem até mesmo o número da página, o ano da edição, etc. Agora, se perguntadas qual a sua opinião a respeito daquela leitura, ela será tomada pela surpresa porque simplesmente não tem.
Quantos de nós, habituados à leitura, já não encontrou textos recheados de citações, de aspas, sem visualizar uma única idéia original do próprio autor? Certamente, ele leu ou na pior das hipóteses, consultou todas as obras citadas, mas, não foi capaz de usá-las como sustentação para  formular suas próprias idéias; ou com sua forma original de pensar, contrapor as teorias citadas. Pensar é isso: ou confrontamos a idéia e a superamos, ou, com novos argumentos, referendamos e confirmamos a sua validade.
O nosso desenvolvimento espiritual é constante, ainda que a marchas e contramarchas. Em determinados momentos nos sentimos mais fortes a cerca de nossas convicções; em outras situações, porém, diante da rigidez da vida, sentimos um fraquejar em nossa fé para, logo adiante, obtermos a sua confirmação. E isso nos permite crescer, nos fortalecer e poder ajudar ao próximo, em uma expressão: praticar a caridade.
E a leitura, seja de romances psicografados, seja de relatos autobiográficos das entidades ou, ainda, obras de caráter etnográfico, sociológico ou antropológico, serve para nos atualizar e apresentar novas idéias. Agora, o que realmente importa são as lições que cada um de nós tira destas leituras. O ato de passar os olhos pelas palavras impressas deve nos levar à reflexão para o nosso próprio crescimento. O que realmente importa não é demonstração de conhecimento com a citação de uma miríade de longos trechos dos livros lidos, mas, sim, o que de concreto a leitura provocou em nosso pensamento. De que forma aquela leitura impactou nosso modo particular de ver o mundo e as pessoas; se nosso comportamento foi modificado, de que forma, para melhor ou para pior.
Enfim, se a direção apontada pela bússola foi determinante na escolha do caminho que decidimos percorrer.