O que fazer? Não tem jeito. O negocia é
recorrer à versão moderna e tecnológica da Biblioteca de Alexandria, o Google,
o site de buscas na internet que é a salvação da lavoura para que não esta
muito disposto a enfrentar 300, 400 ou mais páginas preenchidas de letras de
cima a baixo, sem nenhum figura para quebrar um pouco aquela monotonia de
palavras que, isoladas não fazem nenhum sentido.
No Google é tudo mais fácil. Basta digitar
palavras-chave no espaço destinado ao assunto e em questão de segundos milhares
de links, com as várias opiniões e versões, aparecem na tela luminosa à nossa.
E daí que os escritos não reflitam a nossa própria opinião sobre o assunto? O
que importa é a rapidez com que o problema é resolvido. É tudo muito simples:
basta selecionar o trecho, copiá-lo e colá-lo na página em branco do
processador de texto. Repete-se a operação com outro trecho de textos; e quantos
forem necessários para criar o Frankenstein a quem vamos denominar de trabalho
científico.
E aqui esta “rebimboca da parafuseta”,
como diria o matuto.
Em 2008, o jornalista norte-americano
Nicholas Carr assinou, na revista The
Atlantic, o polêmico artigo “Estaria o Google nos tornando estúpidos?”. O
texto foi capa da revista e, depois de sua publicação, encontra-se entre os
mais lidos de seu website. Este artigo foi apenas o aperitivo para o prato
principal: o livro, do mesmo autor, “The Shallows: what the internet is doing
to our brains” que, na versão em português da obra, recebeu o nome de Geração
artificial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros.
O jornalista norte-americano mergulha em
dezenas de estudos científicos sobre o funcionamento do cérebro humano. E conclui
que a internet está provocando danos em partes do cérebro que constituem a base
do que entendemos como inteligência, além de tornar as pessoas menos sensíveis
a sentimentos como compaixão e piedade.
As múltiplas possibilidades permitidas
pela internet, com seus múltiplos e incessantes estímulos, produzem uma espécie
de adestramento das nossas habilidades de tomar pequenas decisões. Os internautas
saltam textos e imagens, traçando um caminho errático pelas páginas
eletrônicas. Esse ganho, no entanto, se dá à custa da perda da capacidade de
alimentas nossa memória de longa duração e estabelecer raciocínios mais
sofisticados.
O capítulo 7 do livro, onde Carr
introduz estudos científicos sobre o impacto da internet no funcionamento do
cérebro humano, é o mais provocativo. Segundo o autor, quando se navega na
internet “adentra-se a um ambiente que promove uma leitura apressada, rasa e
distraída, e um aprendizado superficial”.
Um dos estudos mencionados na obra
revela que leitores de livros apresentam intensa atividade cerebral nas regiões
associadas com a linguagem, a memória e as imagens. Em contrapartida, os
leitores de páginas da internet, apresentam intensa atividade cerebral nas
regiões associadas com resolução de problemas e com tomada de decisões. Essa
dispersão da atenção vem à custa da capacidade de concentração e reflexão.
Aqui esta o ponto nevrálgico. Mesmo sem
ter lido o livro do jornalista norte-americano, é possível chegar às mesmas
conclusões. Quantos de nós não demonstramos certa impaciência e até mesmo
sonolência quando, depois de longos períodos de exposição à internet, passamos
à leitura de um livro?
O livro de Nicholas Carr vale a leitura.
Talvez, estranhamente, depois de lê-lo voltemos nossas atenções para os livros
para, desta maneira, negar mais um daqueles vaticínios apressados produzidos a
cada vez que surge uma novidade tecnológica: o advento da internet, sua
popularização e velocidade no acesso ao conhecimento, levariam os livros ao
túmulo. O problema não está em acessar o conhecimento, mas, sim, o que fazer com
ele depois disso.