quinta-feira, 13 de maio de 2010

Que bandeira é esta?

A data bem que poderia passar em branco, mas, agindo assim é o mesmo que aceitar este passado escravocrata e este presente racista. Só para constar, os últimos versos do Canto IV do épico Navio Negreiro, de Castro Alves. A grafia é a mesma da época que em foi escrito. Não precisa mais.

IV
Existe um povo que a bandeira empresa
P'rá cobrir tanta infâmia e cobardia!
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em anto impuro de bacante fria!
Meu Deus! Meus Deus! Mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa...Chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave com teu pranto!
Auriverde pendão da minha terra,
Que a Brisa do Basil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas dividas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! Arranca esse pendão dos ares!
Colombo! Fecha a porta dos teus mares!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Coerência e lealdade

Finalmente, o grande dia chegou. O país inteiro aguardava, ansisoso, a lista dos 23 jogadores que o técnico Dunga levará para a África do Sul, onde o Brasil vai tentar seu sexto título mundial de futebol. Goste-se ou não da lista, deve-se elogiar Dunga pela coerência e a lealdade que manteve com a maioria do grupo de jogadores que estará em campo na primeira Copa do Mundo disputada no continente africano.
Foi leal com aqueles que estiveram ao seu lado em todos os momentos da seleção depois da Copa da Alemanha. Ainda na Copa América e mesmo durante as eliminatórias, quando a seleção não empolgava e o técnico sofria toda sorte de pressões, o grupo de jogadores manteve-se fiel e leal ao treinador que, em troca, foi coerente no momento de definir os atletas que irão à Copa.
Será o seu batismo de fogo como treinador; as disputas até agora foram apenas, como se diz, "para curtir-lhe o couro". Dunga foi chamado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para comandar um amplo processo de renovação da seleção; e bem ou mal, ele o fez. Basta lembrar que, do antigo grupo, poucos são os jogadores que se mantiveram na seleção.
O momento para analisar o sistema de jogo da seleção será outro, por hora, diga-se que, se o país quiser saber como jogará a o Brasil na África do Sul, basta olhar no retrovisor da história e mirar a equipe que conquistou o tetra nos EUA, em 1994. O meio de campo, que é onde se decide uma partida de futebol, é composto majoritarimente por atletas com características mais defensivas que de criação e ataque. Os únicos que apresentam alguma característica desta natureza são Júlio Batista e Kaká; e ainda assim, não são jogadores cerebrais, atletas que "pensam" jogo, armam e criam jogadas, que se antecipam e sabem o que fazer antes mesmo da bola chegar, enfim, estetas.
Agora, é esperar e, sobretudo, torcer. O grupo está definido. Mas, não espere, a torcida, uma seleção brasileira empolgante, envolvendo adversários, impondo placares elásticos e realizando jogos antológicos. Este grupo não chega a tanto. É competitivo e o Brasil é um dos favoritos, porém, mais pela fragilidade dos adversários.

sábado, 1 de maio de 2010

Incômodo silêncio

O juiz Baltazar Garzón tornou-se conhecido no Brasil quando pediu, e a Justiça inglesa aceitou, a prisão do general Augusto Pinochet, que governou o Chile entre 1973 e 1989. Garzón pretendia julgar o velho general por crimes contra a humanidade. Seu governo foi um dos mais violentos e sangrentos entre todas as ditaduras que assombraram a América do Sul nos anos 1960 e 1970. A prisão de Pinochet em Londres constrangeu as relações entre a Inglaterra e o Chile, por conta do pedido do juiz espanhol de extraditar o ditador para a Espanha.
O assunto foi amplamente divulgado nos meios de comunicação brasileiros, mas, já se perdeu na poeira do tempo. Agora, novamente Garzón está no centro das atenções na Espanha, acusado de "abuso de poder" por Luciano Varela, juiz de instrução do Tribunal Supremo da Espanha, notadamente vinculado às Falanges franquistas. O "crime" de Garzón? Não aceitar que a Lei de Anistia e a Lei de Memória Histórica, promulgadas após o fim da ditadura, em 1977, impeçam a investigações de crimes lesa-humanidade, cometidos durante a ditadura de Francisco Franco.
A acusação é uma violenta reação da direita espanhola (que compreende, nas palavras do jornalista Alberto Dines, coordenador do Observatório da Imprensa, um pool de interesses empresariais, ideológicos e religiosos) às ações de Garzón, porque suas investigações sobre os escândalos de corrupção envolvendo o Partido Popular (PP) desmoralizam não apenas os projetos eleitorais do partido, mas também a herança reacionária firmemente encastelada na sociedade espanhola.
E por que este assunto, que divide a Espanha e agita a Europa, é solenemente ignorada pelos meios de comunicação brasileiros? Para Alberto Dines, mencionar a direita espanhola significa mencionar a Opus Dei. "E a prelazia pessoal, queridinha do Papa João Paulo II, firmemente infiltrada na mídia brasileira, sobretudo nos escalões intermediários, abomina holofotes. Ela prefere operar na sombra", explica o coordenador do Observatório da Imprensa.
Dines vai além e diz que a mídia européia e americana solidarizou-se com Garzón. Para jornais e revistas como New Yok Times, The Guardian, The Economist, Liberation e Le Monde investigar os desaparecimentos durante a Guerra Civil não é delito. Delito é perseguir um juiz que vai às últimas consequências em busca da verdade.
Verdade que incomoda e é olimpicamente "ignorada" pela mídia brasileira. Por aqui, reina incomodo silêncio.