sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reforma tributária para quê, cara pálida?

O sistema tributário do Brasil é um dos mais injustos do mundo. Neste país paga-se impostos demais e a população tem serviços públicos de menos. É preciso reduzir a carga tributária para desonerar o setor produtivo e, desta forma, gerar mais empregos. A participação da carga tributária no Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, é muito alta, supera a casa dos 35% e não encontra paralelos em outras nações.
Esta cantilena está sempre na boca de “especialistas” que colocam seu talento a serviço das elites políticas e econômicas. Para esta gente, os males do Brasil serão resolvidos quando houver uma significativa redução dos impostos cobrados no país. Quem vê, lê e ouve esta choradeira imagina que venha de gente que deixa até a alma nos cofres do Estado. É aí que está o engano. Os que reclamam são exatamente aqueles que pouco ou quase nada pagam a título de impostos.
No Brasil, paga-se proporcionalmente mais impostos para comprar um remédio no balcão da farmácia do que para adquirir um helicóptero em São Paulo. A situação indica o modelo injusto de tributação, que faz com que a população mais pobre pague mais do que os ricos, tornando o sistema uma fonte de concentração de renda. Sim, o sistema precisa mudar, mas, não da forma que querem os ricos, que já pagam muito pouco e ainda não querem pagar nada.
Especialistas na questão tributária defendem que a arrecadação de impostos vá em direção à distribuição de riquezas. Em São Paulo, por exemplo, o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS) sobre medicamentos é de 18%; e para um helicóptero, 7%.
A chamada tributação indireta, avaliam os especialistas, é a que mais contribui para a chamada regressividade da tributação por atingirem de forma desigual o contribuinte.
ICMS, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), Programa de Integração Social (PIS), entre outros, acabam repassados aos preços de bens, produtos e serviços. E quem acaba pagando são os trabalhadores. Dessa forma, quem ganha menos, paga mais.
Tributos como o Imposto de Renda, o IPVA e o IPTU são calculados sobre o patrimônio e a renda. Nesta modalidade, é possível garantir que, quanto mais rico, maior será o valor recolhido, o que garante que a estrutura de cobrança funcione também para distribuir renda.
O dinheiro arrecadado pelo Estado com os impostos é destinado à execução de serviços públicos como educação, saúde, moradia, segurança, entre outros. E os ricos gritam contra a carga tributária porque não precisam destes serviços. Eles podem pagar escolas particulares para seus filhos, morar em condomínios que mais parecem fortalezas e ter convênios médicos particulares, que não os obriga a ficar em filas ou esperar meses por um simples exame.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Deus, sim. Igreja, não!"

Jovens espanhois, indignados com os custos da visita do Papa Bento XVI ao país para participar da Jornada Mundial da Juventude, vão para as ruas e criticam duramente o governo por assumir os custos do evento, estimados em 25 milhões de Euros. Consideram a medida descabida pelo momento econômico difícil que o país atravessa; entre os jovens, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, o desemprego atinge 40%. As críticas mais duras são direcionadas à Igreja Católica. Cartazes deixaram claro o alvo da revolta: "Deus, sim. Igreja, não!". Os manifestantes não aceitam a destinação de recursos públicos para o evento de uma igreja, quando o Estado é laico e existem muitos outros credos religiosos no país.
As reações da juventude espanhola poderiam, a primeira vista, passar por descrença e abalo na fé. Mas, não. Elas mostram apenas perda de confiança nas igrejas enquanto instituições. A fé em Deus ou em uma Força Superior, qualquer que seja ela, edifício consolidado que é, não está em questão. O que as pessoas não aceitam, não só na Espanha, como também em outros paises, é o papel que os líderes das igrejas desempenham na sociedade. A falta de sincronia entre as posições defendidas por eles e a realidade vivida pelos fiéis.
No Brasil, de 2003 a 2009, ocorreu, entre os que se declaram evangélicos, um fenômeno já conhecido dos católicos: os surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". São pessoas que se auto declaram evangélicas, porém, não possuem vínculos orgânicos com nenhuma igreja desta denominação religiosa. O percentual dos que admitem estar nesta situação, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, nestes seis anos passou de 4% para 14% da população. São mais de 4 milhões de pessoas.
Ainda não existem, entre estudiosos da religião, explicações consensuais para o fenômeno. Há quem atribua esta situação ao individualismo e busca de autonomia das pessoas diante das instituições. Outros consideram que "talvez as distinções denominacionais não façam para a população o mesmo sentido que fazem para religiosos e cientistas sociais".
Além destas explicações, também podem existir outras: a falta de representatividade e sintonia das igrejas com seus fieis e a realidade que os cerca. Será que os fiéis também pensam da mesma forma que pastores e padres? As interpretações que eles fazem da  Bíblia serão as mesmas que fazem aqueles que comparecem aos cultos e às missas? As posições extremadas das igrejas contra a afirmação dos direitos das mulheres e dos homossexuais encontram respaldo entre os fiéis?
Esta falta de sincronismo, ideias e posições explicam o grande número de bancos vazios nas igrejas, sejam elas católicas ou evangélicas. E o surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". Aquilo que pastores e padres dizem nos pulpitos nem sempre encontra guarida entre aqueles que estão ouvindo.