terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Em 2011 estaremos de volta

Estamos a pouco mais de três dias para o fim de 2010 e o começo de 2011. E logo de cara, no primeiro dia, vamos presenciar algo  inédito: a posse de uma mulher na presidência da República, a primeira em 121 anos de regime republicano. Ao invés de fazer apostas - se ela vai ser melhor ou pior do que Lula, por exemplo - prefiro esperar, porém, confiante de que seU governo, além de consolidar o legado de Lula, vai radicalizar ainda mais o combate à miséria e às desigualdades sociais.
Para 2011 espero, sinceramente, poder fazer do blog o que tinha em mente ao criá-lo: um espaço para exercício de um jornalismo diversional, mais próximo da realidade concreta. Em outras palavras, quero colocar aqui histórias de gente como a gente, que luta no dia-a-dia pela sua sobrevivência. É isso.
A quem (se é que houve alguém) que passou por aqui e costuma passar, ainda que de vez em quando, um FELIZ ANO NOVO!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Conselhos de Comunicação

A criação dos Conselhos de Comunicação em vários estados brasileiros despertou o ódio da grande mídia, que vê na medida uma tentativa de cercear a liberdade de imprensa e controlar o conteúdo dos meios de comunicação. Este é o discurso para o público externo, mas, o que mais irrita e preocupa os barões é outra coisa. Como sempre e em todas as ocasiões, a questão é o dinheiro. Ou melhor, o aumento do número de comensais sem que o bolo aumente proporcionalmente.
No Ceará, por exemplo, o projeto aprovado na Assembleia Legislativa não deixa margem para dúvidas. O ítem X, do Artigo 3º, que trata dos objetivos do Conselho, determina: "fomentar parâmetros normativos que estitpulem a melhor distribuição das verbas publicitárias do Estado com base em critérios que garantam a diversidade e pluralidade, não enfantizando apenas a audiência e evitando a concentração do mercado". Recomendação que faz arrepiar todos os cabelos dos barões da mídia.
Até agora, além do monopólio da informação, eles também concentravam os recursos publicitários do Estado, que não são poucos, sobretudo, quando se soma a adminsitração direta, indireta, autarquias, empresas estatais e de economia mista. Em português claro, o Conselho propõe que estas verbas se transformem em instrumento da regionalização da produção cultural e jornalística; da alavancagem de veículos pequenos e médios (rádios e jornais); do fomento da comunicação comunitária. Para usar a expressão do presidente Lula, "um dinheirinho para os pesquenos também".
Como não podem defender isso publicamente, os barões da mídia lançam mão do falso argumento, segundo o qual, os Conselhos de Comunicação são instrumentos da censura e tentativa de controlar o conteúdo dos meios de comunicação. Balela. O que eles não querem é dividir a grana que, até hoje, embolsavam sozinhos.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Unesco aponta falhas na mídia brasileira

Se o sistema de comunicação do Brasil passasse por um teste feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) é bem provável que seria reprovado. De acordo com os parâmetros da organização mundial, nosso país precisa melhorar em vários aspectos a sua legislação e sua regulação das leis. É o que ficou claro nas exposições de Toby Mendel e Wijayananda Jayaweera, os dois representantes da entidade presentes no Seminário Internacional Convergência de Mídias, que ocorre nesta terça (9) e quarta (10), em Brasília.

Toby Mendel é Consultor Internacional da Unesco e Wijayananda Jayaweera, diretor da Divisão de Desenvolvimento da Comunicação da organização. Com base em pesquisa desenvolvida em diversos países, os dois expuseram alguns indicadores desenvolvidos pelo órgão. O Brasil não cumpre na totalidade nenhum deles.
O modelo adotado no país de regulação da mídia foi alvo de várias críticas dos palestrantes. Diferente do que ocorre no país, a Unesco acredita que a concessão e renovação de outorgas deveria ser feita por um órgão regulador independente, como ocorre em Portugal. Por aqui, ele passa pelo governo Federal e pelo Congresso. “O sistema de licenças no país não atende os requisitos de independência”, disse Toby Mendel.
Além de achar o nosso sistema complexo, Toby também afirmou que ele é lento e pouco transparente. Ele lembrou que o momento de renovação de uma outorga (que dura 10 anos para rádios e 15 para televisões) deveria ser propício para que se avaliasse o serviço prestado pela emissora concessionária. No Brasil, a legislação praticamente faz com que as renovações sejam automáticas. Ela exige que, para que uma outorga não seja renovada dois quintos do Congresso se manifeste contrário - e em votação nominal. Nem sequer audiências públicas ocorrem quando uma emissora tem sua outorga vencida.
A regulação de conteúdo – tão atacada pelas entidades midiáticas patronais no Brasil - também foi defendida pelos membros da Unesco, devido o impacto que os meios de comunicação têm na vida das pessoas. Essa regulação deve ser ainda mais forte, segundo Mendel, na proteção de grupos vulneráveis, como as crianças. Em caso de reclamações dos usuários sobre algum conteúdo, também é importante que exista um local para onde sejam encaminhadas reclamações. Esse mesmo organismo aplicaria sanções aos que cometerem abusos.
Apesar de defender uma regulação externa, Toby Mendel também acredita ser positivo que as próprias emissoras criem seus códigos de conduta. “A autorregulamentação é uma alternativa que poderia ser adotada no país”, opinou. No entanto, ele fez uma ressalva de que esse sistema deve funcionar para qualificar os conteúdos e não para regular questões como a propriedade dos veículos.
O consultor da Unesco também teceu comentários sobre os sistemas público e comunitários de comunicação no país. Mendel qualificou o primeiro de pequeno, com financiamento limitado e não totalmente independente. Sobre as mídias comunitárias, Mendel avalia que elas ainda têm poucas frequencias no país e sofrem de lentidão em seus processos de outorga.
Assim como várias entidades que atuam nessa área, o consultor acredita que o marco legal precisa rever a forma de financiamento dessas emissoras. Ele defendeu que os veículos comunitários, por exemplo, recebam algum tipo de publicidade, nem que seja restrita à localidade onde atuam.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Bento XVI e as eleições

Uns surpresos. Outros estupefatos. E outros ainda esfregando as mãos. Estas as reações ao discurso do Papa Bento XVI diante de bispos do nordeste brasileiro, que foram à Roma numa espécie de prestação de contas de suas dioceses. O líder dos católicos apostólicos romanos defendeu o direito de padres, bispos e cardeais intervirem no debate político e posicionarem-se em defesa da vida, desde a concepção até a morte natural. Suas declarações chegam às vésperas do segundo turno das eleições brasileiras, marcadas para domingo, 31, após uma campanha em que os valores religiosos permearam os debates.
O discurso de Bento XVI não surpreendeu. Ele apenas refletiu novas as orientações doutrinárias da Igreja Católica de Roma, após a eleição do Cardeal Ratzinger. Seu papado, longe de ser de transição, como chegaram a afirmar no início alguns vaticanistas, é mais de chamamento à unidade católica. Os valores morais que os católicos consideram dogmas serão cada vez mais reafirmados. Neles se inserem a defesa da vida contra o aborto e métodos contraceptivos; ataques aos homossexuais e apoio às tentativas de convertê-los; freio no diálogo interreligiões e recuo no apoio ao ecumenismo, com a reafirmação do primado da Igreja Católica.
Mas, é no front interno que o papado de Bento XVI será mais incisivo. E estas declarações estão inseridas neste contexto. O papa quer qualificar a intervenção dos católicos no mundo laico e, para isso, devem lançar mão dos valores que a igreja considera essenciais. A Igreja Católica de Roma mergulhou de vez na dipusta pelos corações e mentes dos homens e mulheres que habitam esta planeta. Quer sair da inércia e partir para o confronto aberto contra os protestantes (em suas vertentes pentecostais e neopentecostais) e o islamismo.
Os conservadores venceram o grande debate iniciado no Concílio Vaticano II, apesar da euforia inicial dos progressistas. Eles esperaram o tempo certo. O pontificado de João Paulo II serviu como uma cortina de fumaça para o que se fazia por trás dos panos. O carisma de Karol Wojtyla cativava e arrastava multidões. Enquanto isso, nos porões da Igreja Católica, Joseph Ratzinger, o todo poderoso prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, aparava arestas, acertava as contas com a história e promovia o retorno da igreja à rota na qual ela caminhava há quase dois mil anos.
Morto o papa polonês, era chegado o momento do articulador saltar à ribalta, assumir o comando e colocar em prática tudo o que ele gestara nos 27 anos anteriores.
A Igreja Católica Apostólica Romana vive o seu momento de reafirmação de valores que não necessariamente estão concatenados com a realidade atual. Isto não importa para Bento XVI, mais interessado em fazer com que a igreja se adeque ao molde que ele preparou durante o pontificado de João Paulo II. Se as recentes declarações para os bispos brasileiros vão ou não influenciar o eleitorado brasileiro só a abertura das urnas no domingo vão dizer. Uma dica: pesquisas - qualitativas e quantitativas - apontam para um esgotamento do debate em torno da questão do aborto.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os cães de guarda do Serra em ação

Emiliano José

Estamos a seis dias das eleições. Não sei por que, mas logo me veio à mente o título do notável livro de John Reed – Os dez dias que abalaram o mundo. É uma notável reportagem sobre a aurora da Revolução Russa. A lembrança talvez venha porque tenho absoluta convicção de que esses próximos dez dias são fundamentais para o nosso destino, para o destino do povo brasileiro. E mais do que isso, e é disso que quero tratar, serão dias de um estrebuchar midiático nunca antes visto neste País. Nós não temos o direito de nos enganar quanto a isso. Não podemos nos iludir.
Está posto que a mídia no Brasil é uma das mais partidarizadas do mundo. Não há no Brasil, ao menos se consideramos o seleto núcleo de famílias de onde sai as diretivas para o resto do País, não há aquilo que no jornalismo se denomina cobertura, que implica um olhar sobre o fato o mais verdadeiro possível. O núcleo é constituído pelas famílias que controlam os complexos midiáticos Globo, Folha, Estadão e Abril. Esse é o secretariado do Comitê central do partido político midiático brasileiro. E está posto que a ação deles nesses 10 dias será intensa. E que não haverá qualquer compromisso com os fatos.
O candidato do partido é Serra – ou será que há ainda quem duvide? E por esse candidato eles – os barões midiáticos – continuarão a fazer mais do mesmo – utilizar os fatos para construir as versões que melhor atenderem aos interesses de Serra. Lula, antes da divulgação do relatório da Polícia Federal sobre os supostos dossiês sobre os tucanos, disse que o problema eram sempre as versões, e acertou em cheio. Deturparam tudo. Os tucanos se engalfinham e o PT é culpado.
Os barões midiáticos atuarão nesses dias com uma intensidade maior do que tudo aquilo que nós já vimos, embora o que se viu até agora em nossa história não seja pouco. Estão considerando que esta é a eleição da vida deles. A expectativa de continuarem fora do controle direto do Estado os preocupa e por isso cotidianamente a cobertura e os colunistas se empenham todo o tempo em subsidiar a oposição, em municiar o candidato do partido.
Que não me alertem sobre o perigo de uma visão conspirativa.
A mídia brasileira, ao menos aquele núcleo hegemônico, conspira há muito tempo, e sempre a favor das classes dominantes, dos setores mais conservadores da sociedade brasileiros, dos eternos detentores de privilégios. Eles não guardam sequer o recato de cumprir os manuais de redação, aquelas coisas do beabá do jornalismo, que se aprende nos primeiros semestres das escolas de comunicação. No partido político midiático, que o deputado Fernando Ferro chamou de Partido da Imprensa Golpista, o famoso PIG, a pauta tem sempre direção, orientação política, e ao reportariado cabe cumpri-la, sem discussão. Aqui e ali, alguma distração.
Vou insistir: não temos o direito da ilusão. Não esperemos nenhuma atitude séria, honesta do partido político midiático. Aliás, se voltamos ao passado, e não precisa ser tão remoto, vamos ver sempre esse partido atuando em favor das causas mais conservadoras, sem temer pelas conseqüências. Quem quiser, dê uma lida no capítulo denominado Mar de Lama, do livro de Flávio Tavares denominado O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder. Nesse capítulo, fica evidente como a mídia orientou toda a ação política para derrubar Getúlio, e que terminou com o suicídio do presidente.
Quem não se lembra da atividade militante de nossa mídia a favor do golpe de 1964, salvo sempre as exceções, e nesse caso só Última Hora? Não importa que daí sobreviesse, como ocorreu, um regime de terror e morte. E durante a ditadura, a mídia teve sempre uma atitude complacente, como denomina o jornalista e professor Bernardo Kucinski em seu livro Jornalistas e Revolucionários – nos tempos da imprensa alternativa. Complacente e muitas vezes conivente com a ditadura.
Quem quiser conhecer um pouco da atitude do Grupo Folhas durante a ditadura é só ler o extraordinário livro de Beatriz Kushnir – Cães de Guarda – Jornalistas e Censores. Ali fica evidente como o Grupo Folhas foi um entusiasta defensor da ditadura militar. O Estadão, se sabe, foi sempre um jornal vinculado à direita. Teve o mérito, ao menos, agora, de declarar o voto em Serra. E mostrou a sua verdadeira face ao censurar Maria Rita Khel por publicar artigo defendendo o Bolsa Família. Do grupo Civita, há pouco que dizer, por desnecessário. A revista Veja é uma excrescência, um panfleto da extrema-direita. Do grupo Globo, que dizer? Há uma caudalosa bibliografia a respeito, que a desnuda, e que eu não vou perder tempo em citá-la. Era porta-voz da ditadura, esteve sempre ao lado dos privilegiados e se aliou ao longo de sua história, sem qualquer variação, aos mais destacados homens da direita brasileira.
Por tudo isso, quero reiterar: vamos manter acesa a idéia de que é preciso mostrar o que esse projeto político em curso, com Lula à frente, fez pelo povo brasileiro, as extraordinárias mudanças que estamos fazendo no Brasil. E, por todos os meios que tivermos, no leito da democracia, desmontar o festival de mentiras, de calúnias, de sordidez que vem sendo orquestrado pela campanha de Serra, com a participação decisiva do partido político midiático.
Mais do que nunca é necessário dar adeus às ilusões de uma mídia com características democráticas no Brasil atual. E é necessário ter clareza de que temos que dar passos firmes na direção da democratização da mídia, por mais que ela estrebuche. A imprensa tem que cumprir com suas obrigações constitucionais. Não pode se constituir em partido político disfarçando-se de imprensa. A democracia há de chegar à mídia também. Para que o país avance. E para que façamos isso é preciso eleger Dilma presidente.
Jornalista, escritor, prof. Dr. em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Assessor de Dilma na web diz que mentiras mancharam campanha

Fabrícia Peixoto

Da BBC Brasil em Brasília
O coordenador de internet da campanha de Dilma Rousseff (PT), Marcelo Branco, diz que o peso da internet está sendo "a grande novidade" desta eleição, com milhões de eleitores "podendo se expressar" pelos canais virtuais.
Mas segundo ele, o excesso de "boatos" e de "informações falsas" sobre a candidata petista "mancharam" o processo democrático, sobretudo no 1º turno. "Não posso deixar de registrar um repúdio a esse tipo de atitude, porque isso não é campanha política. Isso é bandidagem", diz.
"São apoiadores do Serra em sua maioria, uma campanha que baseou toda a sua estratégia na disseminação de boatos e mentiras. Essa parte foi muito negativa para a eleição no Brasil", acrescenta.
BBC Brasil - Você tem uma avaliação extremamente positiva do uso da internet nesta campanha, mas o debate de temas importantes parece ter ficado em segundo plano... Qual foi o principal ganho, então?
Marcelo Branco - Eu sempre disse que a internet poderia ter um peso decisivo nessa eleição e acho que isso se confirma. O peso e o papel que a internet está tendo nestas eleições no Brasil talvez seja a grande novidade em termos de espaço e de formação de opinião. Até as últimas eleições, só os candidatos podiam ter seu espaço, seu site, seu blog, de forma oficial. O cidadão não podia ter espaço apoiando candidaturas porque isso era proibido. Em cima disso, nossa estratégia toda no primeiro turno foi não só centrar a campanha da Dilma em cima do espaço oficial dela, mas principalmente estender esse apoio à Dilma às centenas de blogs que já se movimentavam na blogosfera, de apoio a ela. Fizemos uma campanha descentralizada, valorizando essas centenas de milhares de apoios espontâneos que tinham surgido na rede. Criou-se um bloco formador de opinião que ajudou a influir, sem dúvidas, na decisão do eleitorado.
BBC Brasil - Mas os próprios aliados da candidata, que apostavam em uma vitória já no primeiro turno, apontaram a internet como um dos vilões da perda de votos, em função de supostos boatos sobre a Dilma...
Branco - No primeiro turno, tivemos uma estratégia que a gente vai manter, porque ela foi validada pela Dilma e pela coordenação da campanha, que foi exatamente a de estimular a cobertura colaborativa. Nossa campanha foi no positivo durante todo o primeiro turno. Nossa avaliação, da campanha, é de que nós tivemos um ponto fraco, que a gente está tentando resolver nesse segundo turno, que foi em relação aos e-mails. Nas redes sociais nós fomos muito bem, mas a avaliação nossa é de que a gente não conseguiu responder na velocidade necessária aos ataques que vieram pelas correntes de e-mail. Principalmente ataques difamatórios, fraudulentos, com depoimentos da Dilma que não eram verdade. O que é grave nisso tudo é um processo de uma campanha política que tem como objetivo a difamação, a mentira, a calúnia. Isso manchou o processo democrático nesse primeiro turno. A gente pode fazer uma análise de tudo que a internet trouxe de positivo para democratizar a informação, só que essa parte... Não posso deixar de registrar um repúdio a esse tipo de atitude porque isso não é campanha política. Isso é bandidagem.
BBC Brasil - Você diz que a campanha abriu espaço para esses milhões de pessoas que estão podendo se expressar politicamente na internet. Mas isso também não acarreta alguns excessos?
Branco - Esse foi o ponto negativo. Esses e-mails agressivos, mas também fraudulentos, isso é algo inaceitável na democracia. Merece o repúdio. Agora, tecnicamente não há como controlar. Isso é como spam, não é só nas eleições. São apoiadores do Serra em sua maioria, uma campanha que baseou toda a sua estratégia na disseminação de boatos e mentiras. Isso não é o debate político. Concordo que essa parte foi muito negativa para a eleição no Brasil.
BBC Brasil - Conseguimos chegar pelo menos perto do que foi a campanha do Obama à Presidência dos Estados Unidos, que se tornou caso mundial de uso da internet em uma eleição?
Branco - O resultado do primeiro turno mostra isso, que a internet foi muito mais importante do que se imaginava. Se você for ver o peso que as campanhas deram para isso e comparando com as outras mídias, há um consenso de que a internet teve um peso e de que foi a grande novidade. A campanha do Obama teve pontos extremamente positivos nesse sentido, mais fortes, mas essa mobilização diária, que tivemos aqui, acho que fomos até melhores. Temos comunidade no Orkut com 120 mil pessoas. Aqui o protagonista foi o cidadão. A campanha do Obama na internet foi mais centralizada nele, com ele falando para os eleitores via internet. Aqui foram os próprios eleitores que fizeram o debate. A internet tá tendo papel decisivo, e acho que a gente vai ter um grande "case".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cinco ondas da campanha contra Dilma Rousseff

Por Rodrigo Vianna
O jornalista Tony Chastinet é um especialista em desvendar ações criminosas. Sejam elas cometidas por traficantes, assaltantes de banco, bandidos de farda ou gangues do colarinho branco. Foi o Tony que ajudou a mostrar os caminhos da calúnia contra Dilma.

O Tony é também um estudioso de inteligência e contra-inteligência militar. E ele detectou, na atual campanha eleitoral, o uso de técnicas típicas de estrategistas militares: desde setembro, temos visto ações massivas com o objetivo de disseminar “falsa informação”, “desinformação” e criar “decepção” e “dúvida” em relação a Dilma. São conceitos típicos dessa área militar, mas usados também em batalhas políticas ou corporativas.
Na atual campanha, nada disso é feito às claras, até porque tiraria parte do impacto. Mas é feito às sombras, com a utilização de uma rede sofisticada, bem-treinada, instruída. Detectamos nessa campanha, desde a reta final do primeiro turno, 4 ondas de contra informação muito claras.
1) Primeira Onda – emails e ações eletrônicas: mensagens disseminadas por email ou pelas redes sociais, com informações sobre a “Dilma abortista”, “Dilma terrorista”, “Dilma contra Jesus”; foi essa técnica, associada aos sermões de padres e pastores, que garantiu o segundo turno.
2) Segunda Onda – panfletos: foi a fase iniciada na reta final do primeiro turno e retomada com toda força no segundo turno; aqueles “boatos” disformes que chegavam pela internet, agora ganham forma; o povão acredita mais naquilo que está impresso, no papel; é informação concreta, é “verdade” a reforçar os “boatos” de antes;
3) Terceira Onda – telemarketing: um passo a mais para dar crédito aos boatos; reparem, agora a informação chega por uma voz de verdade, é alguém de carne e osso contando pro cidadão aquilo tudo que ele já tinha “ouvido falar”.
4) Quarta Onda – pichações e faixas nas ruas: a boataria deixa de frequentar espaços privados e cai na rua; “Cristãos não querem Dilma e PT”; “Dilma é contra Igreja”; mais um reforço na estratégia. Faixas desse tipo já apareceram em São Paulo.
O PT fica o tempo todo, correndo atrás do prejuízo. Reparem que agora o partido tenta desarmar a onda do telemarketing. Quando conseguir, a onda provavelmente já terá mudado para as pichações.
Há também a hipótese de todas as ondas voltarem, ao mesmo tempo, com toda força, na última semana de campanha. Tudo isso não é por acaso. Há uma estratégia, como nas ações militares.
O que preocupa é que, assim como nas guerras, os que tentam derrotar Dilma parecem não enxergar meio termo: é a vitória completa, ou nada. É tudo ou nada – pouco importando os “danos colaterais” dessas ações para nossa Democracia.
Reparem que essas ondas todas não foram capazes de destruir a candidatura de Dilma. Ao contrário, a petista parece ter recuperado força na última semana. Mas as dúvidas sobre Dilma ainda estão no ar.
Minha mulher fez uma “quali” curiosa nos últimos dias. Saiu perguntando pro taxista, pro funcionário da oficina mecânica, pro vigia da rua de baixo, pra moça da farmácia: em quem vocês vão votar? Nessa eleição, pessoas humildes- quando são indagadas por alguém de classe média sobre o assunto - parecem se intimidar. Uns disseram, bem baixinho: “voto na Dilma”, outros disseram “não sei ainda”. Quando minha mulher disse que ia votar na Dilma, aí as pessoas se abriram, declararam voto. Mas ainda com algum medo de serem ouvidos por outros que chamam Dilma de “terrorista”, “vagabunda”, “matadora de criancinhas”.
O que concluo: as técnicas de contra-inteligência de Serra conseguiram deixar parte do eleitorado de Dilma na defensiva. As pessoas – em São Paulo, sobretudo - têm certo medo de dizer que vão votar em Dilma.
Esse eleitorado pode ser sensível a escândalos de última hora. Não falo de Erenice, Receita Federal, Amaury – nada disso.
Tony teme que o desdobramento final da campanha (ou seja, a “Quinta Onda”) inclua técnicas conhecidas nessa área estratégico-militar: criar fatos concretos que façam as pessoas acreditarem nos boatos espalhados antes.
Do que estamos falando? Imaginem uma Igreja queimando no Nordeste, e panfletos de petistas espalhados pela Igreja. Imaginem um carro de uma emissora de TV ou editora quebrado por “raivosos petistas”.
Paranóia?
Não. Lembrem como agiam as forças obscuras que tentaram conter a redemocratização no Brasil no fim dos anos 70. Promoveram atentados, para jogar a culpa na esquerda, e mostrar que democracia não era possível porque os “terroristas” da esquerda estavam em ação. Às vezes, sai errado, como no Rio Centro.
Por isso, vejo com extrema preocupação o que ocorreu hoje no Rio: militantes do PT e PSDB se enfrentaram numa passeata de Serra. É tudo que o que os tucanos querem na reta final: a estratégia, a lógica, leva a isso. Eles precisam de imagens espetaculares de “violência”, da “Dilma perigosa”, do “PT agitador” – para coroar a campanha iniciada em agosto/setembro.
Espero que o Tony esteja errado, e que a Quinta Onda não venha. Se vier, vai estourar semana que vem: quando não haverá tempo para investigar, nem para saber de onde vieram os ataques.
Tudo isso faz ainda mais sentido depois de ler o que foi publicado aqui , pelo ”Correio do Brasil”: uma Fundação dos EUA mostra que agentes da CIA e brasileiros cooptados pela CIA estariam atuando no Brasil – exatamente como no pré-64.
Como já disse um leitor: FHC queria fazer do Brasil um México do sul (dependente dos EUA), Serra talvez queira nos transformar em Honduras (com instituições em frangalhos).
Os indícios estão todo aí. Essa não é uma campanha só “política”. Muito mais está em jogo. Técnicas de inteligência militares estão sendo usadas. Bobagem imaginar que não sejam aprofundadas nos dez dias que sobram de campanha.
Por isso, o desespero do PSDB com as pesquisas. Ele precisa chegar à ultima semana com diferença pequena. Se abrir muito, até a elite vai desconfiar das atitudes das sombras, vai parecer apelação demais.
Por último, uma pergunta: por que o “JN” adiou o Ibope – que deveria ter sido divulgado ontem? Porque Serra estava na bancada do jornal.
A Globo não quis constranger Serra com uma pesquisa ruim? Imaginem as pressões sobre Montenegro, de ontem pra hoje? O PSDB precisa segurar a diferença em 8 pontos no máximo.Para que a estratégia de ataque final, na última semana, tenha chance de surtir efeitos.
Estejamos preparados pra tudo. E evitemos entregar à turma das sombras o que ela quer: agressões contra Serra, contra Igrejas, contra carros de reportagem.
O Brasil precisa respirar fundo e passar por esse túnel de sombras em que a campanha de Serra nos lançou.

Globo perde exclusividade no futebol

Perdida nos cadernos de esportes dos jornais, uma notícia vai mexer com a sensibilidade de milhões de brasileiros: a Rede Globo perdeu a exclusividade dos direitos de transmissão do futebol. Há anos que os outros canais tentam, sem sucesso, tirar o futebol da emissora carioca. Mas, coube a Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) retirar a cláusula de exclusividade do contrato firmado entre a Globo e o Clube dos 13, que negocia em nome dos clubes que disputam a Série A do campeonato brasileiro.
Segundo o portal R7, o acordo, costurado pelo tribunal com a emissora e o Clube dos 13, vale para a negociação das edições a partir de 2012, uma vez que a transmissão do campeonato do ano que vem já está definida. A maioria dos conselheiros do Cade foi contra a preferência dada à Rede Globo pelo Clube dos 13 por entender que estava configurada a prática de cartel (acordo explícito ou implícito entre duas partes para fixação de preços). Na prática, é o Clube dos 13 que define quem transmite os jogos, porque reúne os maiores times de futebol do país e negocia os direitos de imagem dos clubes.
O efeito imediato do fim da exclusividade pode ser o aumento das receitas dos clubes. Na forma como vigora o contrato atualmente, os “artistas” são mal remunerados e nem podem aceitar propostas que lhes são mais vantajosas.  Na Argentina, com um campeonato bem menos badalado e importante que o brasileiros, os clubes recebem mais do que os brasileiros pelos direitos de transmissão.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Marina... Você se pintou?

Maurício Abdalla

“Marina, morena Marina, você se pintou?” diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as famílias que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão disse: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.
Maurício Abdalla, é professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Arnóbio Rocha: brasileiro votou bem

O fígado não costuma ser bom companheiro quando nos propomos a análisar o que quer que seja, sobretudo política. De tudo o que li até agora sobre o primeiro turno das eleições gerais, esta avaliação me parece a mais sensata. Ei-la para que os visitantes deste blog (se é que existe algum!) possam tirar suas próprias conclusões
1) Brasileiro votou muito bem com sabedoria, só elitista criticam sem base na realidade concreta e no preconceito;
2) Tiririca é ponto fora da curva e eleito no estado mais politizado(?), mais rico do Brasil;
3) Apenas lembremos que Cicciliona foi eleita na Itália, Bush nos EUA, Sarkhozi na França, faz parte da democracia;
4) Olhando os números gerais foram muito bons, nos livramos: Tasso, A.Virgilio, Mão Santa, Heraclito, Aleluia, Marco Maciel, Cesar Maia (dentre outros, veja a lista completa aqui).
5) Dilma foi muito bem em todo Brasil, faltou pouco mais de 3% pra vencer no primeiro turno, grande feito para quem nunca fora candidata.
6) Marina foi a Bala Verde que salvou Serra da aposentadoria antecipada. Mas não podemos culpá-la de nada, faz parte da Democracia.
7) Devemos pensar onde erramos e não achando culpados, Marina era candidata e aproveitou a oportunidade, devemos dialogar com ela.
8 ) Dialogar com Marina e seus eleitores. Bobagem ficarmos acusando-a de qualquer coisa, lembremos que sem Erenice venceriamos fácil;
9) Agora é levantar cabeça e ir em frente, ficar remoendonãoñ leva a nada, Lula em 2006 tava “eleito” e teve que ir ao segundo turno;
10) Grande trunfo é mostrar aos eleitores que Dilma eleita terá base sólida de apoio na Câmara e no Senado para fazer grande governo, Serra não;
11) Único resultado ruim foi Beto Richa o censurador ter vencido no primeiro turno, demais estão dentro do esperado, bola para frente.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Petrobrás é a segunda maior do mundo; e os tucanos queriam desmontar a empresa

Por Rodrigo Vianna, Blog Escrevinhador
FHC queria enterrar a Era Vargas. Foi o que disse num discurso histórico no Senado em 1994, pouco antes de tomar posse para o primeiro mandato na presidência da República.
Depois, um dos ideólogos do tucanismo, o ministro Sergio Mota (aquele que dizia: “os tucanos tem um projeto de 20 anos de poder”) anunciou que era preciso “desmontar, osso por osso” a Petrobras – a empresa, segundo ele, era um “paquiderme”.
Hoje, o Brasil anuncia que a Petrobras é a segunda maior empresa do Mundo. A captação de 120 bilhões de reais, com lançamento de novas ações no mercado, foi a maior da história. Prestem atenção: maior captação de recursos da história no mercado mundial!
Além disso, com a engenhosa operação planejada pelo governo Lula, a União pode passar a deter mais de 50% das ações da Petrobrás.
Com o sucesso da Petrobrás, o Brasil mostra ao mundo a força de sua economia; e mostra que o Estado tem – sim – papel fundamental no desenvolvimento, sobretudo em economias que tentam sair da periferia para entrar no centro do jogo econômico mundial.
Ano passado, o Brasil já tinha enfrentado a crise mundial com a força do BNDES – outra criação de Vargas. Agora, a Petrobras vira uma gigante quase do tamanho da Exxon (EUA).
Como já escrevi aqui, tem um caráter simbólico o fato de a provável sucessora de Lula ser uma ex-militante do PDT, formada na tradição do brizolismo e do trabalhismo de esquerda.
A eleição de Dilma significa o reencontro do PT com Vargas. Mais que isso, significa o reencontro do Brasil com a melhor herança do varguismo: defesa do Estado, distribuição de renda, direitos trabalhistas e nacionalismo econômico.
O resto é UDN, é entreguismo, é tucanismo dos anos 90.
Tenho a leve impressão que o estadista gaúcho ganhou essa parada. Enterrado há 56 anos em São Borja, Vargas segue mais vivo do que nunca. Foi o Brasil que enterrou a era FHC.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"Empresário" fonte da Folha acabou de sair da cadeia

Até onde vai a Folha de S. Paulo? Luis Nassif derruba por terra a denúncia do empresário Rubnei Quícoli, fonte do jornal na "denúncia" publicada em 16 de setembro de 2010.
Alguns elementos para tentar entender essa nova denúncia da Folha:
Segundo informações da própria Folha, o acusador Rubnei Quícoli já foi condenado duas vezes em São Paulo (por interceptação de carga roubada e por posse de moeda falsificada). E em 2007 passou dez meses preso. O fato de antecipar as denúncias sobre sua fonte não absolve o jornal. Pelo contrário, é agravante. Quando uma pessoa com tal currículo faz uma denúncia, é praxe de qualquer jornalismo sério ouvir as denúncias e exigir a apresentação de provas.
A única prova que o tal consultor apresenta é um email marcando audiência na Casa Civil e que tem o nome de Vinicius Oliveira no C/C . Todo o restante são acusações declaratórias. Nenhum juiz do mundo tomaria como verdade acusações desacompanhadas de provas, de um sujeito que acaba de sair da cadeia.
O jornal não explica como um sujeito com duas condenações criminais, que passou dez meses na prisão dois anos atrás, pilota um projeto de R$ 9 bilhões. É apostar demais na ignorância dos leitores.
O BNDES é um banco técnico, constituído exclusivamente por funcionários de carreira trabalhando de forma colegiada. É impossível a qualquer pessoa – até seu presidente – influenciar a análise do comitê de crédito. Essa informação pode ser facilmente confirmada com qualquer ex-presidente do banco, de qualquer governo. É só conversar com o Luiz Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida, Antonio Barros de Castro, Márcio Fortes – que foram presidentes durante o governo FHC. A ilação principal da reportagem – a de que o projeto de financiamento foi recusado pelo BNDES depois da empresa ter recusado a assessoria da Capital – não se sustenta. Coloca sob suspeita uma instituição de reconhecimento público fiando-se na palavra de um sujeito que já sofreu três condenações na Justiça e três anos atrás passou dez meses preso.
Existem empresas de consultoria que preparam projetos para o BNDES e cobram entre 5 a 7% sobre o valor financiado. É praxe no mercado. Confundir essa taxa com propina é má fé. Segundo o empresário que denunciou, Israel apresentou uma proposta de acompanhamento jurídico de processos da empresa, que acabou não sendo assinado. Tudo em cima de declarações.
Ninguém vai negociar propostas ocultas em reuniões formais na Casa Civil, à luz do dia. Só faltava.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tracking Vox Populi/Band/iG: Dilma registra 53%; Serra mantém 22%

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT), oscilou um ponto para baixo no tracking Vox Populi/Band/iG desta terça-feira. A presidenciável petista soma 53% das intenções de voto, e venceria a disputa no primeiro turno. José Serra (PSDB), com 22%, e Marina Silva (PV), com 8%, mantiveram os índices da medição anterior. Brancos e nulos chegam a 4% dos entrevistados. Não sabem ou não quiseram responder 12% dos eleitores.
A variação registrada pela petista ocorre dentro da margem de erro do levantamento, que é de 2,2 pontos percentuais. Na pesquisa espontânea, quando o nome dos candidatos não é apresentado, Dilma recebe 44% das menções, enquanto Serra soma 18%. Marina tem 6%. O presidente Lula segue lembrado por 1% dos eleitores na espontânea.
Dilma tem vantagem sobre os adversários em todas as regiões. Na medição que engloba o Centro-Oeste e o Norte do País, a petista tem 51%. O candidato tucano contabiliza 25% das preferências, enquanto Marina tem 8%. No Sul, Dilma tem 44%, enquanto Serra tem 29%. Marina tem 6%. No Sudeste, Dilma tem 46%, Serra 24% e Marina, 11%.
A cada dia, o Instituto Vox Populi realiza 500 novas entrevistas. A amostra consolidada com 2.000 entrevistas, portanto, só é totalmente renovada após quatro dias. O levantamento foi registrado junto ao TSE sob o nº 27.428/10.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Marina no colo da direita

Análise contundente do Profº Emir Sader sobre o comportamento da candidata do Partido Verde (PV) à presidência da República, Marina Silva, diante da tentativa de golpe do candidato tucano José Serra.
No Forum Social Mundial de Belém, em janeiro de 2009, Marina propagava que ela seria o Obama da Dilma. Já dava a impressão que as ilusões midiáticas tinham lhe subido à cabeça e que passava a estar sujeita a inúmeros riscos.
De militante ecologista seguidora de Chico Mendes, fez carreira parlamentar, até chegar a Ministra do Meio Ambiente do governo Lula, onde aparecia como contraponto de formas de desenvolvimentismo que não respeitariam o meio ambiente. Nunca apresentou alternativas, assumiu posições perdedoras, porque passou ao preservacionismo, forma conservadora da ecologia, de naturalismo regressivo. Só poderia isolar-se e perder.
Saiu e incutiram na sua cabeça que teria condições de fazer carreira sozinha, com a bandeira supostamente transversal da ecologia. Saiu supostamente com criticas de esquerda ao governo, mas não se deu conta – pela visão despolitizada da realidade que tem – da forte e incontornável polarização entre o bloco dirigido por Lula e pelo PT e o bloco de centro direita, dirigido pelos tucanos. Caiu na mesma esparrela oportunista de Heloisa Helena de querer aparecer como “terceira via”, eqüidistante entre os dois blocos, ao invés de variante no bloco de esquerda.
Foi se aproximando do bloco de direita, seguindo as trilhas do Gabeira – que tinha aderido ao neoliberalismo tucano, ao se embasbacar com as privatizações, para ele símbolo da modernidade – e foi sendo recebido de braços abertos pela mídia, conforme a Dilma crescia e o fantasma da sua vitória no primeiro turno aumentava.
As alianças da Marina foram consolidando essa trajetória na direção do centro e da direita, não apenas com empresários supostamente ecologistas – parece que o critério do bom empresário é esse e não o tratamento dos seus trabalhadores, a exploração da força de trabalho – e autores de auto-ajuda do tipo Gianetti da Fonseca, ao mesmo tempo que recebia o apoio envergonhado de ecologistas históricos.
O episódio da tentativa golpista da mídia e do Serra é definidor. Qualquer um com um mínimo de discernimento político se dá conta do caráter golpista da tentativa de impugnação da candidatura da Dilma – diante da derrota iminente no primeiro turno – com acusações de responsabilidade da direção da campanha, sem nenhum fundamento. Ficava claro o objetivo, típico do golpismo histórico – que vinha da UDN, de Carlos Lacerda, da imprensa de direita e que hoje está encarnado no bloco tucano-demista, dirigido ideológica e política pela velha mídia.
Marina, ao invés de denunciar o golpismo, se somou a ele, tentando, de maneira oportunista, tirar vantagens eleitorais, dizendo coisas como “se a Dilma (sic) faz isso agora, vai saber o que faria no governo”. Afirmações que definitivamente a fazem cair no colo da direita e cancelam qualquer traço progressista que sua candidatura poderia ter até agora. Quem estiver ainda com ela, está fazendo o jogo da direita golpista, não há mais mal entendidos possíveis.
Termina assim a carreira política da Marina, que causa danos gravíssimos à causa ecológica, de que se vale para tentar carreira oportunista. Quando não se distingue onde está a direita, se termina fazendo o jogo dela contra a esquerda.
Por Emir Sader.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O DEM foi ao STF contra o PROUNI

Se dependesse do Dem, Prouni não existiria,
Por Helio Gasparina Folha
29/08/2010
EM BENEFÍCIO DA QUALIDADE do debate eleitoral, é necessário que seja esclarecida uma troca de farpas entre Dilma Rousseff e José Serra durante o debate do UOL/Folha. Dilma atacou dizendo o seguinte: “O partido de seu vice entrou na Justiça para acabar com o ProUni. Se a Justiça aceitasse o pedido, como você explicaria essa atitude para 704 mil alunos que dependem do programa?”
Serra respondeu: “O DEM não entrou com processo para acabar com o ProUni. Foi uma questão de inconstitucionalidade, um aspecto”.
Em seguida, o deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, foi na jugular: “Essa informação que ela deu é falsa, mentirosa”.
Mentirosa foi a contradita. O ProUni foi criado pela medida provisória 213 no dia 10 de setembro de 2004. Duas semanas depois o PFL, pai do DEM, entrou no Supremo Tribunal Federal com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a iniciativa, e ela tomou o nome de ADI 3314.
O ProUni transferiu para o MEC a seleção dos estudantes que devem receber bolsas de estudo em universidades privadas. Antes dele, elas usufruíam benefícios tributários e concediam gratuidades de acordo com regras abstrusas e preferências de cada instituição ou de seus donos.
Com o ProUni, a seleção dos bolsistas (1 para cada outros 9 alunos) passou a ser impessoal, seguindo critérios sociais (1,5 salário mínimo per capita de renda familiar, para os benefícios integrais), de acordo com o desempenho dos estudantes nas provas do Enem. Ninguém foi obrigado a aderir ao programa, só quem quisesse continuar isento de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, PIS e Cofins.
O DEM sustenta que são inconstitucionais a transferência da atribuição, o teto de renda familiar dos beneficiados, a fixação de normas de desempenho durante o curso, bem como as penas a que estariam sujeitas as faculdades que não cumprissem essas exigências.
A ADI do ex-PFL está no Supremo, na companhia de outras duas e todas já foram rebarbadas pelo relator do processo, o ministro Carlos Ayres Britto. Se ela vier a ser aceita pelo tribunal, bye bye ProUni.
Quando o PFL/DEM decidiu detonar a medida provisória 213, sabia o que estava fazendo. Sua petição, de 23 páginas, está até bem argumentada. O que não vale é tentar esconder o gesto às vésperas de eleição.
Em 1944, quando o presidente Franklin Roosevelt criou a GI Bill que, entre outras coisas, abria as universidades para os soldados que retornavam da guerra, houve políticos (poucos) e educadores (de peso) que combateram a iniciativa.
Todos tiveram a coragem de sustentar suas posições. Em dez anos, a GI Bill botou 2,2 milhões de jovens veteranos nas universidades, tornando-se uma das molas propulsoras de uma nova classe média americana.
O ProUni não criou as bolsas, ele apenas introduziu critérios de desempenho e de alcance social para a obtenção do incentivo. Desde 2004 o programa já formou 110 mil jovens, e há hoje outros 429 mil cursando universidades. Algum dia será possível comparar o efeito social e qualificador do ProUni na formação da nova classe média brasileira. Nessa ocasião, como hoje, o DEM ficará no lugar que escolheu.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Caso Lunus e a versão cachorro louco

Por Leandro Fortes, no Brasília Eu Vi
Seria apenas risível, não fosse, antes de tudo, muito grave, o surgimento de uma nova e alucinada versão sobre a operação da Polícia Federal, deflagrada em março de 2002, que resultou na apreensão de 1,3 milhão de reais na sede da construtora Lunus, em São Luís, no Maranhão. A empresa, de propriedade da governadora Roseana Sarney (PMDB) e do marido dela, Jorge Murad, tornou-se o epicentro de uma crise política que modificou os rumos da campanha eleitoral de 2002, justamente quando a direita brasileira parecia capaz de emplacar, finalmente, um candidato puro-sangue com real chance de chegar à Presidência da República. Na época, Roseana Sarney era do PFL, atual DEM, e resplandecia numa eficiente campanha de mídia como exemplo de mulher corajosa, determinada e, sobretudo, competente. Resguardada pelo poder do pai, o senador José Sarney (PMDB-AP), e pela aliança pefelista que sustentava o governo Fernando Henrique Cardoso, Roseana sonhou, de fato, em tornar-se a candidata da situação contra Luiz Inácio Lula da Silva.
O desejo da família Sarney de retornar ao Palácio do Planalto revelava, em primeiro plano, o absoluto descolamento da realidade de um clã provinciano e truculento, incapaz de perceber o mundo além das fronteiras do Maranhão. Por outro lado, revelava, ainda, total desconhecimento dos métodos e da sanha de seu verdadeiro adversário, o tucano José Serra, empenhado em ser candidato pelo PSDB a qualquer custo. Serra, ao contrário de Roseana, tinha montado uma máquina de moer inimigos a partir de um “núcleo de inteligência” instalado na antiga Central de Medicamentos (CEME) do Ministério da Saúde, comandada pelo delegado da PF Marcelo Itagiba, atual deputado federal pelo PSDB. Itagiba, no entanto, era apenas o ponto de contato entre Serra a direção-geral da corporação, então nas mãos de outro tucano, o delegado Agílio Monteiro Filho, que chegou a se candidatar, sem sucesso, à Câmara dos Deputados, em 2002, também pelo PSDB. Em 2007, o delegado foi nomeado ouvidor-geral adjunto do Estado de Minas Gerais, uma espécie de ombudsman paroquial, pelo governador Aécio Neves. Um prêmio de consolação, convenhamos, para lá de meia-boca.
Agílio Monteiro Filho comandou de longe uma operação montada em bases políticas, dentro do Palácio do Planalto, com o aval do presidente Fernando Henrique e de seu candidato à sucessão, José Serra. Imputar esse fato ao PT e, mais incrivelmente, a Lula, quase uma década depois do ocorrido, só se justifica pela insana caminhada de parte da mídia ao precipício, onde também se pretende jogar a memória nacional e a inteligência alheia, para ficarmos em termos brandos. O depoimento do tal sindicalista Wagner Cinchetto à revista Veja, como parte da série “grandes entrevistas de dedos-duros do mundo sindical”, tem a pretensão de transformar fatos concretos e apurados numa versão aloprada baseada, unicamente, nos valores invertidos do mundo bizarro em que se transformou boa parte da imprensa brasileira. Trata-se de caso explícito de abandono completo da regras básicas do jornalismo, mesmo a mais primária, a de pesquisar, com um google que seja, aquilo que já foi escrito a respeito.
Digo isso porque, quando da deflagração da Operação Lunus, eu era repórter do Jornal do Brasil, em Brasília, e fui destacado para descobrir os bastidores daquela sensacional ação policial que, inusitadamente, havia sido comemorada tanto pelo Palácio do Planalto como pela oposição petista. Eu tinha boas fontes na Polícia Federal, tanto em Brasília como no Maranhão, e desde as primeiras horas da notícia fui alertado de que, embora a grana dos Sarney fosse mesmo suja, a operação da PF tinha sido armada para detonar Roseana Sarney. Outro que foi avisado cedo sobre o assunto foi o próprio José Sarney. Furibundo, o chefe do clã iniciou um movimento político que resultou em uma de suas raras dissidências governistas e em um ódio paternal profundo pela figura de José Serra.
Na ponta da Operação Lunus estava o delegado Paulo Tarso de Oliveira Gomes, atual adido policial nos Estados Unidos, nomeado pelo diretor-geral da PF, delegado Luiz Fernando Corrêa, imagina-se, por bons serviços prestados à corporação. Gomes era um homem de confiança de Agílio Monteiro Filho e, portanto, do PSDB. A chance de haver alguma ligação dele com o PT ou Lula é a mesma de Marcelo Itagiba se tornar ministro da Justiça em um eventual governo Dilma Rousseff. Ou seja, zero. Jamais houve, contudo, o tal telefonema para o Palácio do Planalto feito por Gomes para avisar FHC do sucesso da empreitada. O delegado Paulo Tarso Gomes enviou, isso sim, de dentro do escritório da Lunus, um fax para o Palácio da Alvorada, à noite, onde o presidente Fernando Henrique, ansioso e de pijamas, aguardava notícias sobre a ação. O texto anunciava a missão cumprida. Foi uma matéria minha, no JB de 2 de março de 2002, que revelou a armação.
Eu soube do fax porque, à época, consegui acessar os dados da companhia telefônica do Maranhão e me deparei com o grau de amadorismo da ação. Incrivelmente, o delegado-chefe da operação, no afã de mostrar serviço, nem esperou voltar para o hotel em São Luís para dar as boas novas a FHC: passou um fax de dentro da empresa investigada! Os números, tanto do telefone da Lunus, como do Palácio da Alvorada, foram registrados pela telefônica e, um dia depois, também foram estampados pelo Jornal do Brasil, a tempo de desmentir uma versão montada às pressas, na assessoria de imprensa da PF, que chegou a apresentar um fax falso para evitar a desmoralização da operação. Tudo isso poderia ter sido checado, sobretudo na Editora Abril, haja vista que o editor-chefe do jornal, que participou diretamente da edição das matérias, era o jornalista Augusto Nunes, atualmente, um dos colunistas da revista Veja.
Mais uma coisinha que ninguém se lembra de falar quando se trata da Operação Lunus: embora tenha sido um sucesso político para os tucanos, foi um fracasso total para a Polícia Federal. Um ano depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou, por falta de provas, o processo contra Roseana Sarney decorrente da ação da PF.
No fim das contas, o neoarrependido Wagner Cinchetto nada mais é o do que um dos cachorros loucos liberados pela mídia neste agosto eleitoral. Ao imputar a Lula e ao PT a tucaníssima Operação Lunus, o sindicalista conseguiu apenas consolidar essa impressão terrível, que cresce com a proximidade das eleições, de que os ventos da derrota não trazem, definitivamente, bons conselhos aos candidatos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Futuro líder da oposição virá do Rio

A última pesquisa do Instituto Datafolha mostra a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, com 49% das intenções de voto. Seu principal adversário, José Serra (PSDB), está em segundo, com 29%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Se as eleições fossem realizadas hoje, estes números dariam à candidata apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a vitória no primeiro turno.
Diferentes analistas políticos afirmam que, caso se confirme sua derrota, Serra terá o canto do cisne em sua carreira política. E mais, já se especula também quem irá liderar a oposição no Congresso Nacional. Uma avaliação ligeira cravaria no ex-governador de Minas Gerais e candidato ao Senado por aquele estado, Aécio Neves. Com uma tribuna importante a sua disposição, dizem os especialistas, ele teria condições de ser o grande líder oposicionista a um eventual mandato de Dilma Rousseff.
Aécio não é unanimidade. Pelo menos é que se depreende de algumas análises publicadas na imprensa. O ex-governador mineiro, dado o seu perfil conciliador e suas boas relações com o presidente Lula, não teria a necessária firmeza para conduzir a oposição conservadora no Parlamento. Se Aécio não serve, quem, então, há de servir? A solução, para os conservadores, pode estar no Rio de Janeiro.
Criado nas hostes brizolistas, César Maia (DEM-RJ) é mais um daqueles típicos casos em que a criatura acaba sempre se voltando contra o seu criador. Sua trajetória política teve início à sombra do caudilho gaúcho, mas, não demorou a alçar vôo próprio; nem que, para isso, fosse preciso dar uma guinada de 180º em suas concepções políticas. O social-democrata, adepto do socialismo moreno, deu lugar ao conservador mais reacionário.
César Maia é candidato ao Senado pelo estado do Rio de Janeiro. E as pesquisas o colocam em boas condições de se eleger – a mais recente, do Datafolha, lhe dá 33%, em situação de empate técnico com o senador e candidato à reeleição Marcelo Crivela.
O demo carioca, depois de três mandatos à frente da prefeitura do Rio de Janeiro, tornou-se um obcecado por pesquisas eleitorais e é dele a mais arguta análise sobre o recente levantamento feito pelo Datafolha.
Maia “joga a toalha” e, em seu ex-Blog na internet, afirma que a vantagem de Dilma Rousseff “é fato e não se pode e nem se deve contestar”. O ex-prefeito carioca admite que, neste momento, para José Serra, o mais importante é perseguir o segundo turno, hipótese que a cada dia se revela mais distante. E para isso, sugere uma aliança “não escrita” com a candidata do Partido Verde, Marina Silva. Talvez a senadora acreana, comprometida até a medula com o limitado discurso ecológico, não contasse com esta possibilidade quando decidiu lançar-se na aventura de tentar ser presidente da República.
O ex-prefeito do DEM propõe induzir o voto daqueles que não querem nem Serra e nem Dilma para Marina Silva. Em outras palavras, prega o voto útil para, em sua opinião, assegurar a realização de um segundo turno, onde o jogo é zerado e os dois mais bem votados partem em condições de igualdade. Esta manobra, embora por outros meios, já foi experimentada na eleição anterior e o resultado é bem conhecido: o então candidato Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu a proeza de ter, no segundo turno, menos votos do que teve no primeiro.
A análise que Cesar Maia faz dos números do Datafolha também fornece pistas de como será sua atuação no Senado Federal, caso seja eleito em outubro. Ele lamenta o fato de a equipe de José Serra não ter acompanhado mais atentamente as eleições chilenas. “Com Michele Bachelet, ex-presidenta do Chile, mais popular do que Lula, Sebastian Piñera, candidato da oposição conservadora, foi corajoso e propôs como mote, foco e slogan de campanha, a mudança”, afirma Maia.
Transpor uma realidade de um determinado local para outro, na expectativa de ver reproduzido ali os mesmo resultados, é um exercício não muito recomendável. A vitória de Sebastian Piñera foi vista com alvíssaras por muita gente da oposição ao presidente Lula, porém, as comparações não tiveram fôlego por um único motivo: a situação chilena estava dividida e fragmentada, ao passo que, no Brasil, ela só tem uma candidata.
César Maia também faz críticas veladas à estratégia adotada por José Serra. Segundo ele, ao invés de apostar no “tudo bem, mas vamos fazer um pouco mais”, o tucano deveria, a exemplo do oposicionista chileno, ter um pouco mais de coragem e insistir na mudança. Estes são pequenos, porém, consistentes sinais da atuação do futuro senador César Maia, o líder que a oposição está procurando.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O ensino técnico em São Paulo

O ensino técnico profissionalizante de nível médio é a vedete nesta campanha eleitoral. Todos os candidatos prometem ampliar investimentos e construir mais escolas desta natureza no estado de São Paulo. A excessiva especialização que estes cursos proporcionam não atende mais as necessidades do mercado de trabalho. Mais do que técnicos extremamente especializados, as empresas querem também um trabalhador com ampla visão de mundo, capaz de entender o empreendimento em sua totalidade e atuar nos diferentes setores da organização.
Esta excessiva especialização é consequência do Decreto 2.208, assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1997. No ano anterior, 1996, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e desobrigou a vinculação da educação profissional ao ensino médio. Com o decreto de FHC ocorreu a fragmentação da educação técnica integrada e a redução da oferta de vagas nesse nível de ensino.
Esta fragmentação é ruim para a formação do trabalhador e para o país, pois reduz os anos de escolaridade. E o fruto desta baixa escolaridade é o trabalho precário, a sub-remuneração, as migrações, que não trazem benefícios para ninguém.
Em 2004, apesar das pressões de setores ligadas à educação privada no Congresso Nacional, foi aprovado o Decreto 5.154, que revogou o 2.208. O ensino técnico voltou a ser vinculado à educação básica, foi assegurado o cumprimento da formação geral e da preparação técnica, com ampliação da carga horária do curso. O decreto do presidente Lula resgatou a integração, porém, de maneira opcional. E nem todos os estados aderiram.
São Paulo não aderiu e, aqui, a rede estadual continuou com dois conteúdos separados e dupla jornada escolar: num período o aluno cursa o ensino médio, e no outro, o ensino técnico, que dura no máximo dois ou três semestres, dependendo do curso escolhido. Quando havia a integração entre os ensinos técnico e o médio, o conteúdo profissionalizante era desenvolvido ao longo dos três anos de curso, e solidificado junto com os conteúdos de Português, Matemática, Física, Biologia e Química; e enriquecido com Literatura, Artes e Línguas.
Desta maneira, o curso proporcionava envolvimento do aluno, tornando mais completa a sua formação; dando-lhe, enfim, a tal visão de mundo que as empresas tanto buscam. Atualmente, com dois ou três semestres no máximo, o conteúdo é reduzido, o tempo de absorção é muito menor, e é muito mais difícil os alunos se envolverem no cotidiano na escola.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O que faz a falta de memória

O período eleitoral é pródigo em histórias de partidos políticos que fazem uso da velha máxima, segundo a qual os brasileiros não têm memória e não cultuam sua história. Posicionamentos considerados equivocados se transformam, da noite para o dia, em ações “virtuosas que só visam o bem estas das pessoas”. Useiro e vezeiro neste tipo de comportamento, o partido Democratas (DEM) é o autor principal em mais uma história desse tipo. A bola da vez é a posição do partido em relação do Programa Universidade para Todos (Prouni).
Lançado em 2004 pelo governo federal, o Programa Universidade para Todos (Prouni) criava condições de acesso ao ensino superior para jovens carentes. Às universidades privadas, aderentes ao programa, o programa propunha isenção de impostos. O principal objetivo do Prouni era, através de bolsas de estudos integrais ou parciais, permitir que jovens provenientes de famílias de baixa renda pudessem cursar uma faculdade.
A isenção de impostos motivou a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino e o Partido da Frente Liberal (PFL), antigo nome do DEM, a ingressarem com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), que recebeu o número de 3330, no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o Prouni. Um programa que beneficiava também os estabelecimentos de ensino questionado pela sua própria entidade representativa. Surpreendente!
A ADIN DEM-Confeden ainda não foi julgada pelo STF, entretanto, provocado pela candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência da República, Dilma Rousseff, que o acusou de querer barrar o programa, o Democratas, agora, reconhece o Prouni como “importante e necessário” parra a educação no Brasil. No seu lançamento, em 2004, não era. Mas, como precisa dos votos dos pobres – os maiores beneficiados pelo programa –, para não serem varridos do mapa político, os democratas dizem em sua propaganda eleitoral que são favoráveis ao Prouni.
Esta mudança radical de posição e comportamento só se explica pela falta de memória dos brasileiros. Apesar de, em períodos eleitores, todos dizerem que escolhem suas opções políticos após rigorosa análise do passado dos candidatos, é fato que mesmo com tanta observação os eleitores ainda escolhem aqueles que lhes apunhalam pelas costas no Parlamento.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Intolerância religiosa é crime

Para os seguidores da umbanda e do candomblé, é bom repetir, o terreiro é um templo sagrado. Ninguém, de nenhuma religião, gostaria que tal violência fosse cometida contra seu próprio templo. Quem discrimina assim o seu semelhante comete, além de intolerância religiosa, outro crime, chamado racismo. Racismo é crime porque assim diz a lei.
Quando foram arrancados de sua terra natal, jogados em navios negreiros e escravizados no Brasil, mulheres e homens africanos perderam quase tudo. Mas resistiram, mantendo sua religião, sua fé em Olorum (o Criador) e em outras divindades. Perderam quase tudo, mas não suas raízes, firmemente fincadas na ancestralidade. Além de território sagrado, os terreiros de umbanda e candomblé são, portanto, locais de resistência e preservação cultural, guardiães da memória de um povo.
Mas, para aqueles que discriminam e desrespeitam uma religiosidade simplesmente por ser diferente da sua, parece difícil entender essa verdade...
A propósito, conta uma tradição oral de matriz africana que no princípio havia uma única verdade no mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espelho. Assim, tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha a menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da verdade, que ficava bem perto do Orun e bem perto do Aiyê.
Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo. Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo).
Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única.
E concluiu Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra”.
Portanto, para seguirmos a vontade do Criador, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos todos iguais, apesar de nossas diferenças. E que a Verdade não pertence a ninguém. Há um pedacinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um de nós.

Jornalismo de resistência

Por Luiz Egypto, do Observatório da Imprensa
Depois de três meses sem receber salários nem benefícios, com sua empresa editora sob intervenção da justiça trabalhista e enfrentando o jogo pesado dos proprietários do negócio, os jornalistas do jornal Crítica de la Argentina ainda conseguem manter forças para resistir.
O diário começou a circular em março de 2008, e logo demarcou um novo referencial na cobertura dos assuntos argentinos. Mal comparando, estava mais próximo da ousadia criativa de um Libération que da consistência sisuda de um Le Monde.
A independência editorial de Crítica, exercida num ambiente contaminado pelo crescente esgarçamento das relações entre o governo federal e a mídia crítica, logo cobrou o seu preço. A publicidade oficial minguou, a discriminação na dotação das verbas de propaganda ficou cada vez mais evidente, a empresa editora de Crítica foi vendida a um empresário espanhol associado a um argentino, e o caldo definitivamente entornou em maio último, quando o jornal interrompeu a circulação diária e tirou do ar o seu site.
De fato e de direito
Os jornalistas, contudo, não deixaram barato. Mantiveram-se mobilizados, exigiram – e conseguiram – o pagamento dos atrasados que se acumulavam desde outubro do ano passado, foram à Justiça reivindicar seus direitos trabalhistas, promoveram manifestações de rua e, no entremeio, ocuparam a redação da Calle Maipu 271, na região central da capital argentina.
Mais do que isso: com o apoio de parlamentares de oposição, de sindicatos e entidades não vinculados ao oficialismo kirchenista, colocaram novamente o jornal na rua, agora sem periodicidade definida. Na segunda-feira (19/7), começou a circular a terceira edição de resistência, de 40 páginas, formato berliner, com cinco mil exemplares de tiragem. Pouco para a média diária de dez mil cópias que o jornal vendeu em 2009, mas ainda assim um ato carregado de profundo significado simbólico.
Na primeira página, o logotipo modificado: em vez de Crítica de la Argentina aparece Crítica de los Trabajadores. Não há preço de capa, mas o aviso de "contribución solidaria". No miolo, anúncios bancados por dezesseis sindicatos, oito organizações não-governamentais, dez políticos ou blocos parlamentares e dois bancos.
A edição oferece um cardápio diversificado de assuntos. A matéria principal trata da recente aprovação pelo Senado argentino da legislação sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo – o primeiro país da América Latina a reconhecer esse direito. De quebra, muita reportagem, entrevistas e um perfil demolidor de Carlos Mateu, atual presidente da empresa Papel 2.0, controladora de direito do Crítica, um negociador duro com quem os funcionários do jornal estão em guerra aberta.
Papel 2.0 é a dona de direito, mas, de fato, são os jornalistas que estão no comando de Crítica. Todos envolvidos em uma encarniçada luta política enquanto fazem o que melhor sabem fazer: jornalismo.

domingo, 25 de julho de 2010

Brizola Neto: Datafolha precisa de auditoria

Por Brizola Neto, no Tijolaço
Bem , depois de me desintoxicar um pouco deste mundo de manipulação e propaganda, acho que é possível, de maneira bem calma e racional, mostrar a vocês como o Datafolha perdeu qualquer compromisso com a ciência estatística e passou a funcionar com uma arrogância que não se sustenta ao menor dos exames que se faça sobre os resultados que apresenta.
A primeira coisa que salta aos olhos é o problema gerado pela definição da área de abrangência e, por consequencia, da amostra. Ao contrário do que vinha fazendo nas últimas pesquisas, o Datafolha conjugou pesquisas estaduais e uma pesquisa nacional.
O resultado é um monstrengo, uma verdadeira barbaridade estatística. E as provas estão todas no site do TSE ao alcance de qualquer pessoa. E do próprio Tribunal e do Ministério Público Eleitoral.
Vejamos a mecânica da monstrengo produzido pelo Datafolha.
Dia 16 de julho, o Datafolha (já usando esta razão social e não mais Banco de Dados São Paulo, como usava antes) registrou, sob o número 19.890/ 2010, uma pesquisa nacional de intenção para presidente. Nela, ao relatar a metodologia, o instituto abandonou os critérios tradicionais de distribuição da pouplação brasileira e “expandiu” as amostras dois oito estados.
No próprio registro há a explicação: “Nessa amostra, os tamanhos dos estratos foram desproporcionalizados para permitir detalhamento de algumas unidades da federação (UF´s) e suas capitais. Nos resultados finais, as corretas proporções serão restabelecidas através de ponderação. A amostra nos estados em que não houve expansão foi desenhada para um total de 2500 questionários.
E quantos somavam os “estratos desproporcionalizados”? Está lá: As UF´s onde houve expansão da amostra foram: SP-2040 entrevistas (1080 na capital), RJ-1240 entrevistas (650 na capital), MG-1250 entrevistas (400 na capital) , RS-1190 entrevistas (400 na capital), PR-1200 entrevistas (400 na capital), DF-690 entrevistas, BA-1060 entrevistas (400 na capital), PE-1080 entrevistas(400 na capital). A soma, portanto dá 9750 entrevistas, de um total de 10.730.
Logo, sobraram para todos os 19 demais estados brasileiros 980 entrevistas.
Qualquer estudante de estatística sabe que você não pode misturar critérios de amostragem para partes do mesmo universo e, no final, “ponderar” pelo peso de cada uma destes segmentos no total. Da mesma forma que não se pode pegar uma parte de uma amostra nacional e dizer que, no Estado X, o resultado é Y.
O resultado será viciado pela base amostral distorcida.
Mas o Datafolha não parou aí. Esta pesquisa “nacional” (protocolo 19.890/2010) foi registrada tendo como contratantes a Folha e a Globo, com o valor de R$ 194 mil. Cada uma dos ” estratos desproporcionalizados” foi registrado, no dia 19 último, como uma pesquisa “separada”. Veja:
Protocolo 20158/2010 - Paraná, 1.200 entrevistas, contratada pela Empresa Folha da Manhã S/A. e Sociedade Rádio Emissora Paranaense S/A. por R$ 76 mil;
Protocolo 20125/2010 - Distrito Federal, 690 entrevistas, contratada pela Empresa Folha da Manhã S/A. e Globo Comunicação e Participações S/A. por R$ 70.900;
Protocolo 20141/2010 - Rio Grande do Sul , 1.190 entrevistas, contratada pela Folha da Manhã S/A. e RBS – Zero Hora Editora Jornalística S/A por R$ 68 mil;
Protocolo 20124/2010 - Bahia , 1.060 entrevistas, contratada pela Folha da Manhã S/A. por R$ 80.258;
Protocolo 20164/2010 - São Paulo , 2.040 entrevistas, contratada pela Empresa Folha da Manhã S/A. e Globo Comunicação e Participações S/A. por R$ 74.100 (mais que o dobro por entrevista que na Bahia).
Protocolo 20140/2010 - Pernambuco , 1.080 entrevistas, contratada pela Folha da Manhã S/A. e Globo Comunicação e Participações S/A. por R$ 65 mil;
Protocolo 20132/2010 - Minas Gerais , 1.250 entrevistas, contratada pela Folha da Manhã S/A. e Globo Comunicação e Participações S/A. por R$ 80 mil;
Protocolo 20161/2010 - Minas Gerais , 1.240 entrevistas, contratada pela Folha da Manhã S/A. e Globo Comunicação e Participações S/A. por R$ 68 mil.
Somando todos os valores declarados de contratação chega-se à bagatela de R$ 776.258 reais. Interessante, não?
Mais interessante ainda é o fato de que, nos protocolos listados acima, que você pode consultar na página do TSE , preenchendo o número correspondente, o Datafolha nem sequer se preocupou em depositar, como manda a lei, o questionário específico. Fez como o Serra, que mandou entregar no Tribunal ,como programa, o discurso que fez na convenção. Colocou uma cópia do questionário “nacional”, onde não há perguntas sobre candidatos a governador ou senador.
O Datafolha trata as exigências legais como um “detalhezinho” sem importância, “vende” a mesma pesquisa em nove contratos diferentes – seria bom ver os recibos destes pagamentos, não? – e deposita questionários imcompletos, aos lotes.
Portanto, a análise da pesquisa Datafolha não deve ser estatística. Deve ser jurídica. O douto Ministério Público Eleitoral, que não aceita intimidações de quem quer que seja, bem que poderia abrir um procedimento para apurar todos os fatos que, com detalhes, estão narrados acima.

sábado, 24 de julho de 2010

Sob pressão, o Datafalha começa a encolher o Serra

Eduardo Guimarães, Movimento dos Sem Mídia - Reproduzido do Conversa Afiada
Quem se surpreendeu, decepcionou-se ou se animou com a pesquisa Datafolha que vazou no fim da noite de sexta-feira na internet e que foi divulgada oficialmente hoje pela Folha de São Paulo, talvez não esteja olhando direito os números.
É claro que, em comparação com a pesquisa Vox Populi divulgada também na sexta, o Datafolha não é tão bom para Dilma nem tão ruim para Serra. Todavia, se compararmos o que vinha sendo feito pelo instituto de pesquisas da família Frias antes de a procuradoria-geral eleitoral acolher a representação do Movimento dos Sem Mídia pedindo investigação dos quatro grandes institutos (Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi), chegaremos à conclusão de que a suposta manipulação de dados do Datafolha refluiu, e muito.
Em dezembro do ano passado, a vantagem que o Datafolha atribuía a Serra em relação a Dilma era de 14 pontos percentuais. Em fevereiro, a vantagem caiu para 7 p.p. Eis que, em março, quando o Vox Populi e o Sensus já atribuíam empate técnico entre Dilma e Serra, o Datafolha joga a diferença a favor do tucano para 10 p.p. Em abril, o mesmo Datafolha aumenta essa vantagem ainda mais, agora para 12 p.p. (!!!)
No começo de maio, a procuradoria-geral eleitoral aceita a representação do Movimento dos Sem Mídia e emite um despacho à Polícia Federal para que esta instaure inquérito para apurar possível crime eleitoral de falsificação de pesquisas. A investigação abrange os institutos Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi.
Em 35 dias, no Datafolha, some uma vantagem de Serra sobre Dilma de DOZE PONTOS PERCENTUAIS. Em 21 de maio, a pesquisa Datafolha conclui que aquela estrondosa diferença caiu a… ZERO (!).
Naquele momento, a blogosfera entrou em festa. Apesar de a mídia esconder a instauração de inquérito policial contra os institutos de pesquisa, os principais blogs progressistas e até os portais IG e Comunique-se entrevistaram-me e veicularam todos os detalhes da representação do MSM, assinada por mais de dois mil leitores do meu antigo blog, o Cidadania.com.
A manchete mais comum que se viu na blogosfera foi “A sinuca do Datafolha”. Ora, para os Frias e para o PIG em geral, foi a morte. Entendam que o principal poder da mídia é o de se colocar acima dos outros poderes da República – o Quarto Poder, no Brasil, acha que é o Primeiro.
Desta forma, a boa e velha margem de erro, levada ao paroxismo, pode permitir uma tendência muito menos divergente dos resultados que o histórico de todas as pesquisas mostra que têm sido os mais acertados, pois a cada três ou quatro meses fazem os outros resultados convergirem para si, ou seja, Datafolha e Ibope sempre acabam convergindo para os resultados de Sensus e Vox Populi.
De qualquer forma, em meados de maio, coincidentemente no momento do acolhimento pela Justiça Eleitoral da Representação do Movimento dos Sem Mídia, a diferença maluca de doze pontos percentuais a favor de Serra, uma diferença que nenhum outro instituto viu (nem o Ibope), reduziu-se a zero.
Em junho, porém, há uma reação da Folha, aumentando essa diferença em um mísero ponto percentual a favor do tucano, que, agora, a mídia mantém, porque a sua lógica é a seguinte: manipulação de pesquisa já havia ocorrido à época dos dez e, depois, dos doze pontos percentuais de vantagem para Serra. Queda ainda mais abrupta dessa vantagem ou ultrapassagem de Serra por Dilma só complicaria ainda mais a situação do Datafolha diante das investigações. Manter uma divergência, qualquer que seja, é dar coerência ao passado, se é que vocês me entendem…
O fato é que a mera análise dos números mostra que o Datafolha, no transcurso de uma linha de tempo, vai tentando puxar Serra para cima em duas pesquisas consecutivas. Em março, puxou essa diferença, que era de sete pontos em fevereiro, para dez pontos; em abril, de dez pontos em março, para onze pontos; em maio, teve que reduzir a a diferença a zero – não me lembro de outra queda tão abrupta de um candidato a presidente em período tão curto (35 dias)
E a diferença do Datafolha a favor de Serra continua a zero desde a representação do MSM, pois o único ponto percentual a favor do tucano, nas duas pesquisas do instituto em julho, ficou dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.
Quero garantir uma coisa aos leitores em geral e aos filiados ao MSM: a Folha não está ignorando o fato de que é a maior suspeita de estar manipulando pesquisas através de seu instituto-laranja. Há todo um intrincado cálculo na divulgação desses números. Até porque, um passarinho me contou que Serra não levaria sua candidatura à frente se Ibope e Datafolha não o mantivessem em vantagem sobre Dilma, mesmo que dentro da margem de erro.
A investigação da Polícia Federal sobre os institutos de pesquisa já está sendo monitorada pelo Movimento dos Sem Mídia. Em breve, teremos novidades sobre o que, a meu juízo, é direito de a sociedade saber. A Folha e seu instituto-laranja estão seguindo uma linha de atuação que lhes parece menos suicida – e eu talvez até concorde com ela, se for enxergar o assunto pela ótica dos seus interesses.
O fato é que não haverá o que o grupo político-midiático de Serra não faça para vencer a eleição deste ano. Há interesses não só do pico da pirâmide social, mas também interesses alienígenas (estrangeiros) na vitória dele. A vitória de Dilma pode tirar dezenas de bilhões de dólares das classes A e B e entregá-los às classes C, D e E.
Estamos falando de uma elite que já deu um golpe de Estado por não aceitar distribuição de renda promovida pelo governo da hora e que, assim, manteve o país acorrentado a uma ditadura por mais de vinte anos. E estamos falando do sétimo país mais desigual do mundo, segundo o índice de Gini. O Brasil não chegou a esse ponto com essa casta dominante assustando-se com pouco. Até porque, há chefes militares garantindo apoio.
O que este blogueiro e ativista político faz, portanto, é apostar na legalidade, nas instituições, e, no limite, na indisposição que me dizem haver nas tropas de obedecerem a ordens de comando golpistas, caso a direita tucano-pefelê-midiática e seus mentores decidam não aceitar ficarem de fora do poder por mais quatro anos.
Contudo, essa decisão-limite da direita golpista precisará se amparar no Judiciário, mais ou menos como aconteceu em Honduras. É o novo modus operandi golpista latino-americano. Porém, o Judiciário pós-Lula já não é mais o mesmo. A maioria dos juízes da Suprema Corte foi nomeada por este governo. O procurador-geral da República é um homem de bem.
Em minha opinião, até a doutora Sandra Cureau tem méritos a seu favor e tenho minhas dúvidas de que esteja atuando de forma partidária. Aceitou uma representação de uma ONG desconhecida, apesar de apoiada por mais de dois mil cidadãos, e, depois que o PT resolveu se mexer e acionar a Justiça Eleitoral naquela questão da “propaganda antecipada”, também tem acusado os tucanos.
Em minha opinião, a situação das pesquisas está muito melhor hoje. A ousadia diminuiu muito. E não creio que terão pernas para dar um golpe branco, a la Honduras. Além disso, as próximas pesquisas poderão ser avassaladoras para Serra. O Vox Populi mostrou que a sociedade não está dando bola nem para os ataques reiterados a Dilma nem à manipulações de pesquisas. Quero ver o que fará o Datafolha quando Sensus e Vox Populi estiverem dando 15 pontos de vantagem para Dilma e a eleição estiver chegando…
O que essa gente não entendeu, é o seguinte: eles podem fazer quantas pesquisas quiserem, quantas notícias de jornal quiserem, quantos programas de televisão quiserem. Podem tentar criar climas eleitorais artificiais à vontade. No fim, porém, prevalecerá o princípio máximo da democracia, o de que a cada cidadão só cabe o próprio voto, e o de que na cabine indevassável, naquela hora do cidadão com a sua consciência, quem tem o poder é o povo.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O uso do cachimbo pode entortar a boca

Maria Inês Nassif
Do Valor Econômico, em 22.07.2010
A incorporação do discurso udenista ao arsenal dos candidatos à Presidência é tão velha quanto a relativamente nova democracia brasileira. Aliás, até mais velha. O padrão da UDN, criada em 1945 e extinta em 1965 pela ditadura militar que ajudou a implantar, tem interditado o debate político desde a redemocratização, em 1985. Em 2010, 35 anos após a sua extinção, ainda é o padrão de discurso oposicionista. 55 anos depois de sua criação, com uma ditadura de 21 anos no meio, volta invariavelmente em períodos eleitorais.
O PT cumpriu seu destino de oposição udenista de 1989 a 2002, quando, enfim, tornou-se governo pelo voto direto. No caso, prevaleceu o discurso moral. A partir de 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o governo, os partidos excluídos do poder assumiram, eles próprios, o udenismo como padrão de comportamento oposicionista. Trazido das eleições anteriores, o udenismo pós-Lula, comandado pelo PSDB e pelo ex-PFL, além da referência moral, vem carregado de conservadorismo. O período pós-2002, com um partido de esquerda no poder, trouxe à cena um padrão UDN completo, com barba, cabelo e bigode: discurso moral, agressividade, anticomunismo e conservadorismo de costumes.
É quase um atavismo: o partido mais udenista da política brasileira, o ex-PFL, hoje DEM, renovou quadros, pôs gente nova à frente da direção e o discurso continua o mesmo. Índio da Costa, o jovem vice-candidato do candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, entrou no cenário nacional acusando o PT de ligação com a guerrilha colombiana, as Farc. Além de ser uma afirmação temerária, ela tem por objetivo provocar o velho anticomunismo que todo mundo supunha estar enterrado com o próprio comunismo, depois do fim da União Soviética. Mas isso é mais que um atavismo. É um discurso destinado a uma faixa do eleitorado conservador que rejeita ideologicamente o PT. PSDB e DEM embarcaram na retórica anticomunista para manter um eleitor que já é sua reserva de mercado.
O problema de adotar esse tipo de discurso é que isso provoca confusão de personagens e da história. Por essa retórica, estão a salvo do julgamento da história personagens que até hoje perambulam pela cena política, políticos gestados pela ditadura e que deram apoio ao governo autoritário que matou, torturou, censurou e cerceou os poderes do Legislativo e do Judiciário. Estão a salvo também os que se aliaram a eles – mesmo aqueles que, no passado, tiveram passagens pelos movimentos de resistência à ditadura. Como esse é um discurso maniqueísta, traz, implícita ou explicitamente, a condenação àqueles que se opuseram ao regime. A anistia que esse pensamento conservador tanto defende para os agentes públicos que torturaram e mataram é negada aos que lutaram contra o regime militar e permaneceram à esquerda do espectro político depois da redemocratização.
Se a referência for a história, os três candidatos melhor colocados na disputa presidencial estão no mesmo barco. José Serra (PSDB) foi da Ação Popular, um racha da Juventude Universitária Católica (JUC) que flertou com o marxismo e, posteriormente, acabou se incorporando ao PCdoB – embora Serra não tenha se incorporado, ele próprio, à luta armada. Dilma Rousseff fez a opção pela luta armada contra a ditadura e cumpriu alguns anos de cadeia por isso, além de ter sido barbaramente torturada – e embora não tenha participado diretamente de nenhuma ação. Marina Silva militou no Partido Revolucionário Comunista (PRC), já no período em que a oposição havia abandonado a via armada como tática de contraposição ao regime.
Sem o viés conservador, essas informações são muito mais um sinal de que o país cumpre o seu destino democrático do que uma “denúncia”. Graças a pessoas como Serra, Dilma e Marina, o país vive uma democracia. Graças a eles, em outubro acontecerá o primeiro turno das eleições presidenciais. Por causa da luta que eles participaram, alguém será eleito pelo voto direto e secreto. Pela ação de pessoas como eles, a imprensa terá plena liberdade para cobrir o pleito. Os candidatos poderão fazer comícios, ocupar as ruas e falar o que pensam nos palanques, no rádio e na TV.
A eleição de 2010 se deve àqueles que lutaram contra a ditadura, militando no partido de oposição permitido pelo regime, o MDB, ou nos partidos clandestinos que optaram ou não pela luta armada. Isso não é uma denúncia, é uma feliz constatação. O país agradece, comovido, a pessoas como o deputado José Aníbal (PSDB-SP), companheiro de Dilma na Polop; ao candidato ao Senado Aloysio Nunes (PSDB-SP), que militou na ALN; ao candidato ao governo do Rio, Fernando Gabeira (PV), que foi do MR-8. Aos ex-comunistas do velho Partidão, o PCB, organização que rejeitou a via armada – o governador Alberto Goldman (PSDB-SP), o ex-prefeito César Maia (DEM-RJ), o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), o ex-deputado Roberto Freire (PPS-SP), entre tantos outros. Aos hoje petistas que vieram de organizações que optaram pelo confronto armado com a ditadura – José Genoíno (que participou da Guerrilha do Araguaia), José Dirceu, Fernando Pimentel, Marco Aurélio Garcia, Ricardo Zarattini, Rui Falcão, Franklin Martins, Carlos Minc, entre outros. E a outros que botaram a cara para bater mobilizando grandes contingentes de trabalhadores em greves que colocaram profundamente em xeque o regime autoritário – como o próprio presidente Lula.
Deve-se o presente a muitos, muitos mesmo, que hoje apóiam o governo ou estão na oposição, mas igualmente, e no mesmo momento, enfrentaram riscos, viram companheiros morrer, perderam amigos ou pessoas da família – e chegaram, juntos, ao momento em que a sociedade brasileira comemorou a democracia.
Em eleições, existe espaço para qualquer discurso ideológico. Isso é democracia. O que não convém é manipular a história, nem relativizá-la. Não são tantos anos que separam as eleições de 2010 dos movimentos pela democracia, onde muitos tucanos e petistas que hoje se batem estavam no mesmo barco.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Lula diz que democracia fica mais representativa e justa com Estatuto da Igualdade Racial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, durante cerimônia de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, que o país passará a ser mais justo com a entrada em vigor do texto, que prevê garantias e o estabelecimento de políticas públicas de valorização para os negros.
“A democracia brasileira parece mais justa e representativa com a entrada em vigor do Estatuto da Igualdade Racial. Estamos todos um pouco mais negros, um pouco mais brancos e um pouco mais iguais”, discursou Lula, no Itamaraty, para uma plateia formada, em sua maioria, por representantes de diversos movimentos que lutam pela questão da igualdade racial.
Lula ressaltou que seu governo foi duramente criticado por defender a "agenda dos desafios da igualdade racial” e lembrou que, “os críticos de sempre”, chegaram a ingressar com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a política de cotas nas universidades públicas. "O que construímos nesses sete anos e seis meses foi uma sólida ponte entre a democracia política e a democracia social".
Mas agora, no período eleitoral, acrescentou Lula, mesmo os críticos mais duros não contestam essas medidas. “Agora, às vésperas das eleições, ninguém mais contesta. Nem sempre foi assim e a sociedade enxerga a distância entre o que se dizia antes e o que se diz agora. Quantas vezes não fomos criticados por trazer a agenda dos pobres para dentro o governo”, criticou o presidente, acrescentando que, durante o seu governo, mais de 20 milhões de pessoas deixaram a linha da pobreza e passaram para a classe média.
“Fomos criticados duramente por isso e fomos desdenhados pelos críticos de sempre. Os desafios da desigualdade ainda são tratados como um falso problema e uma questão menor do desenvolvimento e da democracia. O mesmo se deu na luta contra a fome no Brasil”, disse Lula.
O presidente ainda minimizou as mudanças no estatuto durante a tramitação no Congresso, como a retirada da política de cotas. “Vocês não perderam nada, ganharam e ganharam muito”, afirmou.
O presidente da Rede de Cursinhos Populares Educafro, frei David Raimundo dos Santos, também acredita que, apesar das mudanças, o Estatuto da Igualdade Racial representa um avanço na questão das políticas de igualdade racial no Brasil. “As mudanças são o retrato da falta de dimensão política que a comunidade negra não conseguiu construir nesses 510 anos de Brasil”, argumentou.
“Cedemos o dedo para não perder o braço. O que sobrou, é superior à força política que a sociedade negra possui”, acrescentou frei Davi. Ele acredita que a comunidade negra precisa aproveitar as eleições para aumentar sua representação política nas esferas estaduais e federal.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O que você faria?

Assista o vídeo e, depois, sozinho, de forma bem pessoal, responda a si mesmo o que faria se estivesse nesta situação.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um tiro na intolerância

Em uma votação apertada e histórica, por 33 votos a favor, 27 contra e 2 abstenções, o Senado argentino aprovou na madrugada da quarta-feira, 14 de julho, o casamento entre homossexuais. Com a decisão, além do matrimônio, as pessoas de mesmo sexo também terão direito à adoção e à herança. Durante as mais de quinze horas de debate entre os senadores, uma multidão concentrou-se do lado de fora da Câmara Alta do país vizinho.
De um lado, católicos e evangélicos, numa aliança insólita, protestavam duramente contra o projeto do poder Executivo da Argentina. De outro, organizações defensoras dos direitos dos homossexuais, dos direitos humanos e associações políticas ligadas ao governo da presidente Cristina Kirchner, faziam o contraponto e pressionavam os parlamentares a votarem a favor do projeto.
Analistas políticos dizem que a aprovação do projeto ampliou ainda mais a fenda que separa a Argentina. O Arcebispo de Bueno Aires, cardeal Jorge Bergoglio, conclamou uma campanha contra a nova lei, definida por ele como uma "Guerra de Deus". Em resposta à iniciativa, Cristina Kirchner atacou: "Eu não estava de acordo com o discurso que girava em torno do debate. O fato de que se falasse de guerra de Deus, por exemplo, mostrava um radicalismo que não era positivo de nenhuma maneira."
Para muito além das implicações políticas que a aprovação do projeto possa ter sobre a sociedade argentina, é necessário analisar a história votação para fora das fronteiras da Argentina. A influência que poderá ter nos outros países da América do Sul, sobretudo, o Brasil, onde haverá eleições em outubro, é o que deve contar neste momento.
Se as organizações religiosas (católicos, evangélicos, etc.) já estavam se articulando nas sombras para tentar influenciar o voto dos eleitores, agora, isto se dará às claras. O país assistirá ao desfile de uma centena de pastores-candidatos com mensagem conservadores, reacionárias e intolerantes, do tipo: "vote pela salvação da família bíblica", ou, talvez, "seu voto pode garantir a salvação da família, tal qual Deus a criou", e por aí vai.
Neste clima maniqueísta, o debate sairá prejudicado. Não será possível discutir com um mínimo de seriedade uma realidade que, apesar das reações estáticas e contrárias, teima em mudar muito depressa. A votação do Senado argentino representou um tiro na intolerância. Oxalá, tenha sido o de misericórdia.

domingo, 13 de junho de 2010

Solidariedade aos goleiros

Enquanto as expectativas do mundo todo estavam todas voltadas para as perfomances de jogadores como o argentino Messi, o português Cristiano Ronaldo, o inglês Rooney, o brasileiro Kaká, eis que dois goleiros chamam a atenção neste início de Copa do Mundo por terem protagonizado os dois lances mais falados até agora. Green, da Inglaterra, e Faouzi Chaouchi, da Argélia, tomaram o famoso frango nas partidas contra os Estados Unidos e Eslovênia, respectivamente.
O goleiro é o mais solitário dos jogadores em campo. Mesmo quando sua equipe marca um gol, ele comemora sozinho do outro lado. É costume dizer que, a posição do goleiro é tão amaldiçoado que onde ele pisa nem grama nasce. Isto, porém, não nos impede de reconhecer a sua importância para o jogo de futebol. O goleiro também é responsável por lances que costumam entrar para a história. Quem não se lembra da defesa de Gordon Banks da Inglaterra em uma cabeçada de Pelé na Copa de 1970? Ou da sequência de defesas incríveis do uruguaio Rodolfo Rodrigues, em uma partida entre Santos e América de Rio Preto na Vila Belmiro, nos anos 80?
Apesar de tudo isso, às vezes o imponderável acontece, e aqui e ali acontece um frango. Faz parte do jogo e podemos classificá-lo como acidente de trabalho. Que os goleiros Green e Faouzi Chaouchi levantem a cabeça. A Copa está só começando. Novos frangos virão.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Crítica açodada

Nunca uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), como a realizada na terça-feira, 8 de junho, foi tão ansiosamente aguardada pela mídia brasileira. Ansiosos pelo resultado, os analistas consevadores não esconderam o riso quando a votação terminou: com doze votos a favor, dois contrários (Brasil e Turquia) e uma abstenção (Líbano), o CS aprovou novas e mais duras sanções ao Irã, por conta de sua resistência em abandonar seu programa nuclear que, alegam os países ocidentais, é um caminho escancarado para a fabricação de artefatos atômicos.
Nem tanto pelo resultado em si, previsível, mas, mais por supostas consequências que as novas sanções poderiam acarretar para o Brasil, que articulou, juntamente com o Turquia, um acordo pelo qual o governo iraniano concordava em depositar urânio de baixo enriquecimento em solo estrangeiro, e em troca, receberia material enriquecido o suficiente para tocar seu programa para fins pacíficos.
Jornais como O Estado de S. Paulo e O Globo apressaram-se em dizer que a decisão do CS isolava o Brasil no mundo. Estas manchetes, no entanto, não resistem a uma simples comparação com opiniões emitidas por publicações internacionais de prestígios, que observam que o governo brasileiro tinha razão ao afirmar que as sanções não irão produzir os resultados esperados.
Publicações européias e americanas afirmam que as sanções não devem produzir mudança na posição do governno iraniano e que a decisão do CS não exclui a necessidade de novas medidas no futuro próximo.
A tese de isolamento brasileiro é puro ranço e picuinha. E parte de setores da imprensa que não admitem a possibilidade de inserção do país na comunidade internacional de modo soberano e independente. Ainda preferem o caminho da subserviência e da genuflexão nas relações internacionais.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O celibato está na berlinda

Um dos dogmasda Igreja Católica, o celibato, encontra-se sob fogo cerrado. A castidade, ao lado da obediência e da pobreza, é um dos três votos que o candidato a clérigo deve submeter-se. Mas, a descoberta de milhares de casos de pedofilia envolvendo membros do clero no mundo inteiro trouxe questionamentos sérios à obrigatoriedade do padre ser casto. Os críticos apontaram o celibato como uma das causas da pedofilia.
Ao contrário do que se possa pensar, no entanto, a castidade não nasceu com a própria Igreja. Em termos históricos, ela é relativamente jovem - tem apenas cinco séculos -, levando-se em consideração que a igreja tem mais de dois milênios.
A primeira menção ao celibato obrigatório surgiu no Concílio Regional de Elvira, na Espanha, em 304. Era a forma escolhida pelos bispos da região para "selecionar" aqueles que queriam ser sacerdotes. Na Idade Média, a castidade passou a ser conveniente para a Igreja manter intacto seu patrimônio material, evitando que descendentes levassem terras e outros bens deixados por sacerdotes. Algo puramente venal e nada espiritual.
O Segundo Concílio de Latrão, em 1139, ampliou o celibato para todo o Ocidente. Mas, só em 1563, no Concílio de Trento, ficou estabelecido que o rompimento do voto de castidade seria punido com a excomunhão.
O conflito com o celibato na Igreja é um dos grandes desafios do sacerdócio. Perturba padres há séculos - pelos menos 39 papas casaram e tiveram filhos - e continua a ser um dos problemas mais sérios do Vaticano. O cerco, porém, está se fechando cada vez mais.
Representantes de um grupo de mulheres que dizem ter relações sentimentais com sacerdotes católicos divulgaram uma carta que enviaram ao Vaticano para pedir o fim do celibato para os padres. O grupo é formado por cerca de 40 mulheres de várias cidades da Itália, que tiveram ou ainda têm um relacionamento com padres católicos. "Estamos acostumadas a viver de forma anônima os poucos momentos que os padres nos concedem e vivemos diariamente o medo e as inseguranças dos nossos homens, suprindo suas carências afetivas e sofrendo as consequências da obrigação do celibato", diz o texto da carta enviada a 150 órgãos de imprensa italianos.
Apesar de o grupo ter cerca de 40 mulheres, apenas três tiveram coragem de assinar a carta: Antonella Carisio, Maria Grazia Filipucci e Stefania Salomone. As outras preferiram continuar no anonimato.
Stefania Salomone disse à BBC Brasil que, por estarem próximos do Vaticano, todos se sentem amedrontados. "As mulheres, os padres e as pessoas que sabem dos casos preferem não falar. Por causa disso é difícil que na Itália exista uma verdadeira associação, como existe na França, na Suiça ou na Espanha", diz.
Quando um caso é descoberto, a primeira providência do Vaticano é transferir o padre de paróquia, que deixa para trás uma mulher que arriscou tudo para viver um amor sabidamente proibido.
Antonella Carizio, de 42 anos, divorciada, com um filho de 15 anos, viveu esta experiência. Ela conta que, durante dois anos, se relacionou com um padre brasileiro. Depois que o caso veio à tona, o sacerdote foi mandato de volta para o Brasil. "Tenho certeza que ele quis voltar ao Brasil para colocar um fim no nosso relacionamento, que foi muito intenso", lamenta.
Antonella avalia que os sacerdotes não tem o apoio necesário para enfrentar os problemas ligados à sexualidade e aos sentimentos. "Nos seminários ensinam apenas a excluir os sentimentos da própria vida e criar uma parede entre si e os outros. Como podem entender certas situações que nunca viveram?", questiona.
Dificimente um padre que se envolve com uma mulher abandona o sacerdócio. A maior parte prefere ter as duas coisas, pois não suportam deixar de ser ministros sagrados para entrar na rotina do casamento.
O Vaticano precisa encontrar de maneira urgente uma fórmula para resolver a equação, porque a cada ano aumenta mais o número de padres que abandonam a batina para se casar. Um estudo publicado pela revista italiana Civiltà Católica, da Ordem dos Jesuítas, aponta que em 40 anos, de 1964 a 2004, 69 mil padres deixaram o sacerdócio no mundo. A maior parte dos pedidos de dispensa, de acordo com o estudo, deve-se a situações de instabilidade afetiva.