Jovens espanhois, indignados com os custos da visita do Papa Bento XVI ao país para participar da Jornada Mundial da Juventude, vão para as ruas e criticam duramente o governo por assumir os custos do evento, estimados em 25 milhões de Euros. Consideram a medida descabida pelo momento econômico difícil que o país atravessa; entre os jovens, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, o desemprego atinge 40%. As críticas mais duras são direcionadas à Igreja Católica. Cartazes deixaram claro o alvo da revolta: "Deus, sim. Igreja, não!". Os manifestantes não aceitam a destinação de recursos públicos para o evento de uma igreja, quando o Estado é laico e existem muitos outros credos religiosos no país.
As reações da juventude espanhola poderiam, a primeira vista, passar por descrença e abalo na fé. Mas, não. Elas mostram apenas perda de confiança nas igrejas enquanto instituições. A fé em Deus ou em uma Força Superior, qualquer que seja ela, edifício consolidado que é, não está em questão. O que as pessoas não aceitam, não só na Espanha, como também em outros paises, é o papel que os líderes das igrejas desempenham na sociedade. A falta de sincronia entre as posições defendidas por eles e a realidade vivida pelos fiéis.
No Brasil, de 2003 a 2009, ocorreu, entre os que se declaram evangélicos, um fenômeno já conhecido dos católicos: os surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". São pessoas que se auto declaram evangélicas, porém, não possuem vínculos orgânicos com nenhuma igreja desta denominação religiosa. O percentual dos que admitem estar nesta situação, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, nestes seis anos passou de 4% para 14% da população. São mais de 4 milhões de pessoas.
Ainda não existem, entre estudiosos da religião, explicações consensuais para o fenômeno. Há quem atribua esta situação ao individualismo e busca de autonomia das pessoas diante das instituições. Outros consideram que "talvez as distinções denominacionais não façam para a população o mesmo sentido que fazem para religiosos e cientistas sociais".
Além destas explicações, também podem existir outras: a falta de representatividade e sintonia das igrejas com seus fieis e a realidade que os cerca. Será que os fiéis também pensam da mesma forma que pastores e padres? As interpretações que eles fazem da Bíblia serão as mesmas que fazem aqueles que comparecem aos cultos e às missas? As posições extremadas das igrejas contra a afirmação dos direitos das mulheres e dos homossexuais encontram respaldo entre os fiéis?
Esta falta de sincronismo, ideias e posições explicam o grande número de bancos vazios nas igrejas, sejam elas católicas ou evangélicas. E o surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". Aquilo que pastores e padres dizem nos pulpitos nem sempre encontra guarida entre aqueles que estão ouvindo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário