quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Deus, sim. Igreja, não!"

Jovens espanhois, indignados com os custos da visita do Papa Bento XVI ao país para participar da Jornada Mundial da Juventude, vão para as ruas e criticam duramente o governo por assumir os custos do evento, estimados em 25 milhões de Euros. Consideram a medida descabida pelo momento econômico difícil que o país atravessa; entre os jovens, na faixa etária dos 18 aos 24 anos, o desemprego atinge 40%. As críticas mais duras são direcionadas à Igreja Católica. Cartazes deixaram claro o alvo da revolta: "Deus, sim. Igreja, não!". Os manifestantes não aceitam a destinação de recursos públicos para o evento de uma igreja, quando o Estado é laico e existem muitos outros credos religiosos no país.
As reações da juventude espanhola poderiam, a primeira vista, passar por descrença e abalo na fé. Mas, não. Elas mostram apenas perda de confiança nas igrejas enquanto instituições. A fé em Deus ou em uma Força Superior, qualquer que seja ela, edifício consolidado que é, não está em questão. O que as pessoas não aceitam, não só na Espanha, como também em outros paises, é o papel que os líderes das igrejas desempenham na sociedade. A falta de sincronia entre as posições defendidas por eles e a realidade vivida pelos fiéis.
No Brasil, de 2003 a 2009, ocorreu, entre os que se declaram evangélicos, um fenômeno já conhecido dos católicos: os surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". São pessoas que se auto declaram evangélicas, porém, não possuem vínculos orgânicos com nenhuma igreja desta denominação religiosa. O percentual dos que admitem estar nesta situação, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, nestes seis anos passou de 4% para 14% da população. São mais de 4 milhões de pessoas.
Ainda não existem, entre estudiosos da religião, explicações consensuais para o fenômeno. Há quem atribua esta situação ao individualismo e busca de autonomia das pessoas diante das instituições. Outros consideram que "talvez as distinções denominacionais não façam para a população o mesmo sentido que fazem para religiosos e cientistas sociais".
Além destas explicações, também podem existir outras: a falta de representatividade e sintonia das igrejas com seus fieis e a realidade que os cerca. Será que os fiéis também pensam da mesma forma que pastores e padres? As interpretações que eles fazem da  Bíblia serão as mesmas que fazem aqueles que comparecem aos cultos e às missas? As posições extremadas das igrejas contra a afirmação dos direitos das mulheres e dos homossexuais encontram respaldo entre os fiéis?
Esta falta de sincronismo, ideias e posições explicam o grande número de bancos vazios nas igrejas, sejam elas católicas ou evangélicas. E o surgimento dos chamados "evangélicos não praticantes". Aquilo que pastores e padres dizem nos pulpitos nem sempre encontra guarida entre aqueles que estão ouvindo.

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