segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ser mãe é direito e não dever da mulher

“O Estado, a medicina e a religião continuam a lutar por suas prerrogativas masculinas de decidir sobre os corpos das mulheres. A sociedade cobra das mulheres a reprodução e as que não têm uma consciência feminista sentem-se inferiorizadas, excluídas dos laços sociais”. A análise, provocante, porém, lúcida, é da historiadora Tania Navarro-Swain, da Universidade de Brasília (UnB); que vai além, ao afirmar que a maternidade é apenas uma das possibilidades da mulher, não uma obrigação ou um elemento constitutivo como ser humano.
Implícito na análise da historiadora está o direito da mulher ao prazer no ato sexual, sem a obrigatoriedade de resultar uma gravidez deste ato. Qual direito tem os homens de determinar quando e como a mulher deve ser mãe? Note-se que os maiores adversários da proposta de descriminalizar do aborto são justamente aqueles impossibilitados pela natureza de gerar filhos.
A pílula anticoncepcional foi o instrumento que permitiu às mulheres se reapropriarem de seus corpos. Tania Navarro-Swain explica que, na modernidade, as mulheres têm sido vinculadas a seus aparelhos genitais na definição do feminino. “A gravidez sucessiva é uma prática patriarcal para manter as mulheres fora do espaço público, um meio de mantê-las sob seu controle e determinar os limites de sua atuação”, explica.
Nos púlpitos, católicos ou protestantes, é comum ouvir que a salvação das mulheres se dará pela gestação. Argumento falso, que mal esconde o desejo masculino de perpetuar o domínio sobre as mulheres. No passado, esta dominação foi exercida pelo terror e a violência, da qual a inquisição foi o exemplo mais triste. E no presente, o acirramento patriarcal para impedir o aborto quando de uma gravidez indesejada é a prova da insana vontade masculina de manter o controle sobre os corpos das mulheres.
A maternidade é um direito e não um dever da mulher. Cabe somente a ela escolher se quer ser mãe e qual o melhor momento para isso. O direito ao prazer não é uma prerrogativa masculina. As mulheres também têm.
Atribuir à crescente presença e participação das mulheres no mercado de trabalho a desestruturação familiar, nada mais é do que uma artimanha para culpá-las e trazê-las ao “bom caminho” da “verdadeira mulher”: esposa e mãe. “Esta é mais uma tentativa de fazer retroceder as conquistas das mulheres; pois a independência econômica é essencial para a autoestima, e sua afirmação enquanto sujeitos políticos”, conclui Tania.

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