sábado, 10 de setembro de 2011

O impensável aconteceu

Onze de setembro de 2001. Eu trabalhava no Jornal de Holambra, cidade fundada por imigrantes holandeses, próxima à Campinas. Semanária, a publicação era a única na localidade. Naquela dia, chegara mais cedo. Precisava preparar a próxima edição. Seria especial. No dia anterior ocorrera o brutal assassinato do prefeito campineiro, Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. Um crime até hoje ainda não esclarecido. O assunto, porém, deixou de ser único. Passou a dividir o espaço do jornal com o impensável.
Mal chegara à redação, bateu aquela vontade de tomar um café, ação que, invariavelmente, precedia outra: o cilindro branco, com um filtro, fumegante. Os tempos eram outros e ainda se podia fumar em locais fechados. Tomei o café e enquanto fumava, a secretaria na sala ao lado soltava um grito de horror. Incrédula, ela não conseguia explicar a imagem que a TV insistia em reproduzir: um jato chocava-se violentamente contra um prédio em Nova York. Era a segunda aeronave. A primeira já se espatifara contra o outro prédio que, juntamente com o anterior, formavam as chamadas "torres gêmeas" do Word Trade Center, uma espécie de coração financeiro do capitalismo norte-americano.
O impossível aconteceu. Os muçulmanos feriam de morte o "Grande Satã". Cravavam a estaca no que acreditavam ser o coração da fera. Estava enganados. A história e os fatos que se sucederam se encarregaram de mostrar-lhes. Mas, naquele momento, eles encheram-se de júbilo. A ação chocou o mundo. Jamais, em toda a grandiosa história norte-americana, um inimigo externo fizera tanto estrago. Nem os japoneses em Peral Habor. O país já fora alvo de ataques terroristas antes. Os inimigos, nestas ocasiões, eram internos; como foi o caso das explosões em Oaklahoma City, em 1995.
A sociedade norte-americana e o próprio país mudaram. Duas guerras foram travadas. Dois regimes políticos e seus líderes foram aniquilidos. Hoje, exatos dez anos depois, também o mundo foi afetado pelos atentados perpretados pela Al Qaeda (a queda) de Osama Bin Laden. O próprion terrorista não está mais neste mundo. Seu corpo repousa no Mar da Arábia. Mas, certamente, a caveira do seu crânio exibe um sorriso irônico.
A terra da liberdade, da punjança e da prosperidade não existe mais. Os esforços militares empreendidos na chamada "guerra ao terror" mergulharam o país em uma crise econômico-financeira sem precedentes. O desemprego atingiu números recordes. E o bem mais valioso dos americanos, que os enchia de orgulho, a liberdade, é apenas uma pálida sombra. A paranóia e o medo tornaram-se conselheiros das mudanças legislativas realizados pelo governo do presidente George W. Bush. E lançaram o fermento de um movimento reacionário que ameaça mergulhar os EUA em um período de trevas, do qual levará muitas décadas para se desvencilhar.
Esta, talvez, não tenha sido a intenção de Bin Laden e seus kamicazes. Algo bem na linha do "atirei que no vi e acertei no que deixei de ver". O Jornal de Holambra, naquela semana, publicou matérias sobre o atentado da Al Qaeda e o assassinato do Toninho do PT.. E quase nenhuma notícia da própria cidade. De provinciano, tornou-se cosmopolita. Reproduziu em todas as suas páginas, ainda que apenas uma vez, os ecos do mundo.

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