quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Futuro líder da oposição virá do Rio

A última pesquisa do Instituto Datafolha mostra a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, com 49% das intenções de voto. Seu principal adversário, José Serra (PSDB), está em segundo, com 29%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Se as eleições fossem realizadas hoje, estes números dariam à candidata apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a vitória no primeiro turno.
Diferentes analistas políticos afirmam que, caso se confirme sua derrota, Serra terá o canto do cisne em sua carreira política. E mais, já se especula também quem irá liderar a oposição no Congresso Nacional. Uma avaliação ligeira cravaria no ex-governador de Minas Gerais e candidato ao Senado por aquele estado, Aécio Neves. Com uma tribuna importante a sua disposição, dizem os especialistas, ele teria condições de ser o grande líder oposicionista a um eventual mandato de Dilma Rousseff.
Aécio não é unanimidade. Pelo menos é que se depreende de algumas análises publicadas na imprensa. O ex-governador mineiro, dado o seu perfil conciliador e suas boas relações com o presidente Lula, não teria a necessária firmeza para conduzir a oposição conservadora no Parlamento. Se Aécio não serve, quem, então, há de servir? A solução, para os conservadores, pode estar no Rio de Janeiro.
Criado nas hostes brizolistas, César Maia (DEM-RJ) é mais um daqueles típicos casos em que a criatura acaba sempre se voltando contra o seu criador. Sua trajetória política teve início à sombra do caudilho gaúcho, mas, não demorou a alçar vôo próprio; nem que, para isso, fosse preciso dar uma guinada de 180º em suas concepções políticas. O social-democrata, adepto do socialismo moreno, deu lugar ao conservador mais reacionário.
César Maia é candidato ao Senado pelo estado do Rio de Janeiro. E as pesquisas o colocam em boas condições de se eleger – a mais recente, do Datafolha, lhe dá 33%, em situação de empate técnico com o senador e candidato à reeleição Marcelo Crivela.
O demo carioca, depois de três mandatos à frente da prefeitura do Rio de Janeiro, tornou-se um obcecado por pesquisas eleitorais e é dele a mais arguta análise sobre o recente levantamento feito pelo Datafolha.
Maia “joga a toalha” e, em seu ex-Blog na internet, afirma que a vantagem de Dilma Rousseff “é fato e não se pode e nem se deve contestar”. O ex-prefeito carioca admite que, neste momento, para José Serra, o mais importante é perseguir o segundo turno, hipótese que a cada dia se revela mais distante. E para isso, sugere uma aliança “não escrita” com a candidata do Partido Verde, Marina Silva. Talvez a senadora acreana, comprometida até a medula com o limitado discurso ecológico, não contasse com esta possibilidade quando decidiu lançar-se na aventura de tentar ser presidente da República.
O ex-prefeito do DEM propõe induzir o voto daqueles que não querem nem Serra e nem Dilma para Marina Silva. Em outras palavras, prega o voto útil para, em sua opinião, assegurar a realização de um segundo turno, onde o jogo é zerado e os dois mais bem votados partem em condições de igualdade. Esta manobra, embora por outros meios, já foi experimentada na eleição anterior e o resultado é bem conhecido: o então candidato Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu a proeza de ter, no segundo turno, menos votos do que teve no primeiro.
A análise que Cesar Maia faz dos números do Datafolha também fornece pistas de como será sua atuação no Senado Federal, caso seja eleito em outubro. Ele lamenta o fato de a equipe de José Serra não ter acompanhado mais atentamente as eleições chilenas. “Com Michele Bachelet, ex-presidenta do Chile, mais popular do que Lula, Sebastian Piñera, candidato da oposição conservadora, foi corajoso e propôs como mote, foco e slogan de campanha, a mudança”, afirma Maia.
Transpor uma realidade de um determinado local para outro, na expectativa de ver reproduzido ali os mesmo resultados, é um exercício não muito recomendável. A vitória de Sebastian Piñera foi vista com alvíssaras por muita gente da oposição ao presidente Lula, porém, as comparações não tiveram fôlego por um único motivo: a situação chilena estava dividida e fragmentada, ao passo que, no Brasil, ela só tem uma candidata.
César Maia também faz críticas veladas à estratégia adotada por José Serra. Segundo ele, ao invés de apostar no “tudo bem, mas vamos fazer um pouco mais”, o tucano deveria, a exemplo do oposicionista chileno, ter um pouco mais de coragem e insistir na mudança. Estes são pequenos, porém, consistentes sinais da atuação do futuro senador César Maia, o líder que a oposição está procurando.

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