quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Obscurantismo católico

Nomeado recentemente pelo Papa Bento XVI prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Igreja Católica, o arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, mostrou que está em perfeita sintonia com o obscurantismo católico. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, edição de 19 de janeiro, o religioso já foi logo emparedando a presidenta Dilma Rousseff, ao cobrar-lhe publicamente o que ele considera posicionamentos mais claros sobre questões como o aborto e o homossexualismo.
Dom João acusa Dilma de ter posições ambíguas sobre estes temas. “Nós não temos uma idéia clara de quem é Dilma do ponto de vista religioso. Ela precisa explicar melhor suas convicções religiosas”. O religioso afirma que a chefe do Executivo revelou-se, durante a campanha, muito flexível em relação a temas importantes para a igreja. Ele atribui isso a uma característica própria dos políticos. “Durante a campanha é uma coisa, e na prática o caminho às vezes é outro”, acusa.
Como a igreja católica ainda “não conseguiu decifrar a esfinge Dilma”, o arcebispo de Brasília manifesta preocupação sobre como se dará o diálogo com o governo federal. “Até o momento, não sabemos como será, pois ela (Dilma) assumiu a posição do ex-presidente Lula, que é impossível moralmente. Ele diz que tem uma posição pessoal como homem de fé e outra como presidente, como homem de Estado. Ora, a gente tem apenas uma moral, e não duas”, critica o religioso.
A dificuldade de dom João Brás em entender a posição de Lula e da presidenta Dilma resulta do problema da igreja católica em aceitar o caráter laico do Estado brasileiro. Quando o ex-presidente afirmava a sua posição sobre o aborto, por exemplo, o que ele pretendia era exatamente tirar o componente religioso do debate e tornar a questão um assunto de saúde pública.
Ao contrário do que diz o arcebispo de Brasília na entrevista ao jornal paulista, a fé está, sim circunscrita à esfera privada, à dimensão da consciência pessoal das pessoas. Ela não pode, jamais, influenciar as decisões do Estado, que impacta toda a sociedade, composta não só por católicos, mas, também, por pessoas de diversas denominações religiosas; e até mesmo sem nenhuma religião.
Nas entrelinhas de sua entrevista, Dom João Braz deixa bem claro a qual movimento religioso está afiliado: o obscurantismo católico, reacionário e conservador. O recém nomeado “prefeito” pelo papa não esconde seu desejo de ver a igreja católica definindo as regras de conduta que a sociedade deveria seguir; com tudo de ruim que isso implica, como a história da humanidade demonstrou em outras oportunidades.
Apesar de seu reacionarismo, Dom João deve ser um homem culto. E, certamente, deve ter assistido ao filme “Elizabeth – a Era de ouro”. Se viu o filme, sabe o que aconteceu ao rei Felipe da Espanha, católico fervoroso e que envolveu toda a Europa numa guerra santa. Quando tentou atacar a Inglaterra protestante, o monarca espanhol viu a sua bela armada, orgulho da Nação, afundar no Canal da Mancha, juntamente com seu obscurantismo religioso. Uma década depois, Felipe foi chamado a prestar contas no grande tribunal da vida, não sem antes levar seu país à falência econômica e moral.

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