quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os tiros de Tucson continuam a ecoar

Os tiros disparados por Jared Lee em Tucson, Arizona, EUA, continuam a ecoar pelo mundo. O Tea Party, por intermédio de sua estrela maior, a ex-candidata a vice-presidente, Sarah Palin, postou vídeo na Internet, onde se defende das acusações, segundo as quais sua retórica belingerante incentivou o rapaz disparar contra a multidão. No ano passado, vídeos institucionais do Tea mostravam distritos onde os democratas ganharam eleições como alvos a serem alvejados pelos repúblicanos. Lee deve ter seguido a sugestão ao pé da letra.
"Depois da casa arrombada, corre-se a por trancas nas portas", diz um velho ditado brasileiro. E o debate do momento, nos Estados Unidos, é sobre se a retórica raivosa da extrema-direita foi responsável ou não, ainda que indiretamente, pelos massacre de Tucson. Os brasileiros podem até estranhar esta discussão, uma vez que, por aqui, salvos algumas exceções, não temos programas com retórica belicosa na televisão. A influência é, digamos, um pouco mais sutil.
Isto não significa, no entanto, que a realidade não esteja mudando. Quem se dispuser a perder tempo e paciência nos canais religiosos encontrará inúmeros exemplos de programas iguais ou até mesmo piores do que aqueles transmitidos nos Estados Unidos. Por aqui, o discurso, ainda que disfarçado pelo viés reliogiosa, também busca alvejar as iniciativas progressistas.
A coisa começa nas críticas duras ao debate sobre a descriminalização do aborto, passa pela discussão sobre a retirada dos símbolos religiosos dos órgãos públicos e desemboca no projeto de lei do Estatuto do Nascituro (ainda desconhecido do grande público), que tramita no Congresso Nacional. E pronto, está fechado o ciclo político da direita, o pantanoso terreno da moral. O país assistiu, durante a campanha eleitoral do ano passado, apenas uma prévia de como serão os próximos quatro anos.
Será que o extremismo político da direita poderá levar à repetição, no Brasil, de um caso semelhante ao de Tucson? Ou é forçar demais a barrar tal questionamento? O ser humano é imprevisível, portanto, convém acautelar-se.

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